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O tarado da antipolítica

Artigo do jornalista Roberto Maciel

A pauta deste Dia Internacional da Mulher (8.5.2022) inclui um personagem parido pela antipolítica. Chama-se Arthur do Val, deputado estadual em São Paulo eleito com quase meio milhão de votos. YouTuber, viu nos ataques ao governo de Dilma Rousseff (PT), a partir de 2013, campo para se projetar como "militante conservador", com tudo o que isso possa significar. Seguiu, com êxito, a mesma trilha de outros nomes de igual caráter.

Trata-se do vulgo "Mamãe Falei", que recentemente ganhou manchetes por usar a guerra na Ucrânia para fazer turismo sexual. Ele representa os que cataram no cenário caótico atos e pensamentos semelhantes ao que têm. Dá voz e espaço parlamentar ao preconceito, à violência e à impunidade.

É terrível escrever sobre isso, mas as ironias não nos permitem escape. Primeiramente por Arthur do Val usar a palavra "mamãe" - nada é tão feminino, afinal - na alcunha política. Depois, por ter iniciado carreira agredindo uma mulher com gestos rasteiros. Por fim, por agora ver a dita carreira no cadafalso por agredir mulheres.

Os dicionários admitem para a palavra "tara" a definição de "degradação moral, desvio de conduta; perversão, depravação". Quem atravessa o oceano, desembarca em zona de guerra e sai de lá fazendo comentários sexistas sobre mulheres em vulnerável situação, prometendo voltar para se aproveitar as "facilidades" é - não cabe palavra diferente - "tarado".

Arthur do Val é um tarado político, sim. Mas não é caso isolado. A substância das palavras dele é a mesma dos tiros que mataram Marielle Franco, de quem ameaça colegas com estupro, de quem persegue feministas nas redes sociais, de quem diz que usou dinheiro da verba parlamentar para "comer gente". O exercício de coletar episódios de abusos políticos contra mulheres não exige esforço especial.

Esse tarado político integra o Podemos, partido em cujas fileiras encontra-se o ex-juiz Sérgio Moro e em cujas narrativas destacam-se os direitos das mulheres e a luta contra o aborto. É tudo retórica, mas é mais justo ser designado como hipocrisia.

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Por que o MDB tem tanta dificuldade de conseguir uma - ou um - vice para Elmano?

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Há um desafio para os emedebistas: designar um nome para ocupar as funções de vice na chapa liderada pelo deputado petista Elmano Freitas. Este artigo está sendo escrito às 10 horas de manhã de 9 de agosto, quarta-feira. Restando menos de uma semana para o fim do prazo legal de indicações, a sigla ainda não fez a escolha devida e necessária.

Fala-se muito em uma militante para essa posição e chegou-se a apresentar a fisioterapeuta Renata Almeida como vice de Elmano. Após posar para fotos ao lado do candidato e de outros líderes do PT e do MDB, Renata desistiu da tarefa. Alegou estar sofrendo pressões e ataques por meio de fake news nas redes sociais. É certo que os apoios político e jurídico que os partidos eventualmente ofereceram a ela, como forma de protegê-la das ditas agressões - se é que ofereceram - não a convenceram.

Num contexto em que não se pode ignorar a mobilização feminina contra o machismo, sobretudo na política, os entraves do MDB, controlado pelo ex-senador Eunício Oliveira, despertam curiosidade. Afinal, foi de Eunício que partiram as primeiras ironias e críticas contra o PDT por ter optado por Roberto Cláudio em vez de Izolda Cela. O destino faz dessas coisas: Eunício estaria pagando pelo que falou.

Até o bolsonarista Capitão Wagner conseguiu uma mulher para colocar na chapa - a advogada Kamilla Cardoso, candidata a senadora.

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Voltemos ao MDB, então.

Faltam militantes? Faltam propostas? Faltam retórica e conteúdos? Não. A questão de gênero está aí, diante de todos, hostil e discriminadora, brutal e até criminosa, exigindo cada vez mais mobilização social e cada vez mais respostas incisivas do cidadão. Indicar caminhos, discussões e ações por meio da política é, deve-se considerar, uma estratégia muito boa.

Note-se que a Lei Maria da Penha, sancionada por um petista - o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, em 2006, foi na semana passada centro de análises e manifestações positivas. E merecidamente.

Mas o fato é que não há muitas mulheres atuantes na política cearense que tenham trajetórias próprias. Descartando aqui a descortesia de citar nomes, é possível considerar que a participação feminina tenha sido historicamente um apêndice do controle masculino. Foi assim que se constituiu a nossa cultura: patriarcal, predominantemente masculina, grosseira e impositiva. Coisa de coroneis mesmo.

Raros nomes, como os das professoras Maria Luiza Fontenele, Rosa da Fonseca e Luizianne Lins e como os das vereadoras da "mandata Nossa Cara" - Adriana Gerônio, Louise Anne de Santana e Lila M. Salu, do PSol -, rompem as barreiras e ascendem à custa de liderança própria.

Diferentemente de Maria, Rosa, Luizianne, Adriana, Louise e Lila, se não for a filha de sicrano é a esposa de beltano. Ou é a mãe de fulano.

Só não é - ainda - a vice do Elmano.

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Ciro, se não quiser ajudar não atrapalhe!

Artigo do jornalista Roberto Maciel

O candidato a presidente da República Ciro Gomes (PDT) se comporta como se estivesse disputando luta de MMA. Espalha pontapés, socos, rabos-de-arraia e o que mais lhe pareça razoável num desesperado esforço de se manter na disputa. Nunca acerta os golpes, posto que faltam-lhe pontaria, firmeza e, no mais das vezes, atenção às regras. Quer dar ao público, parte do qual sedenta de sangue, a impressão de que é competitivo.

Ciro mais grita no pé do ouvido daquele que julga ser o adversário - um provecto senhor barbado, calejado por outros embates e em muitas situações prejudicado por juízes ladrões - do que tem precisão. Não consegue achar o ponto certo para bater. Não sabe o que é a ponta do queixo nem a linha da cintura. Quando consegue se manter rodando o ringue já está fazendo muita coisa.

O público, diferentemente do que Ciro Gomes espera, não o leva a sério, não vê nele chances de enfrentamento de opoentes reais.

Enquanto erra seguidamente no embate, Ciro constroi o desejo de conquistar o apoio da plateia se fazendo de valentão. Mais do que lutador pra valer, aparenta um coreográfo de catch-as-catch-can, modalidade conhecida no Brasil como "telequete" - uma série de movimentos ensaiados, na qual ninguém se machuca de verdade e que visa mesmo é a enganar os espectadores. É um fanfarrão que não faz mais do que tentar provocar o adversário na sessão de pesagem.

Ciro não tem aptidão para o ringue, mas insiste em querer trocar socos; não melhora o espetáculo. Entoa retórica como a do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, fugitivo da Justiça: é ácido, mas não amedronta ninguém porque não alcança ninguém.

Além de não ajudar, atrapalha mais ainda. Vai terminar a luta rounds na metade dos rounds, ou antes disso, ficando sem treinador nem equipe. Vai acabar sem ter que jogue a toalha por ele.

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Conversa de Ciro Gomes no portal UOL:

"Se eu for para o segundo turno com o Bolsonaro, claro que eu quero o apoio de Lula. O contrário (apoiar Lula), não é mais viável. Como eu digo que eles são corruptos, incompetentes, você subirá no palanque com eles? Passa a ser cumplicidade. Lula é responsável pela tragédia que está acontecendo no País".

Ciro não admite que ter se escondido em Paris em 2018, negando apoio à candidatura de Fernando Haddad no segundo turno, tenha ajudado Jair Bolsonaro a se eleger.

É um catiripapo que aplica em si mesmo.


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Eunício Oliveira e a sequência de vexames que vem impondo ao MDB, ao PT e ao campo progressista

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

A prevalecer o entendimento de que a candidata a vice-governadora do Ceará Jade Romero, indicada pelo MDB para compor a chapa do petista Elmano Freitas ao Palácio da Abolição, estaria inelegível, o ex-senador Eunício Oliveira se credencia como poucos a receber o Oscar de Defeitos Especiais da política cearense.

Jade estaria desempenhando funções públicas em cargo de comissão fora do prazo legal de desincompatibilização, o que a exclui da condição de regularizada perante a Justiça Eleitoral. Ontem mesmo, tão logo se noticiou a indicação, uma brigada bolsonarista apoiadora do deputado Wagner Sousa (UB) empreendeu blitzkrieg nas redes sociais para disseminar questionamentos sobre a situação de Jade Romero.

Distantes, porém animados, aliados de Roberto Cláudio (PDT) assistiram à briga sem se envolver, mas torcendo pela briga.

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Voltemos a Eunício Oliveira, pois.

Eunício quis ser candidato ao Senado, mas a existência de apenas uma vaga - almejada pelo ex-governador Camilo Santana (PT) - o deixou de fora. Ele não entra em bola dividida. Quis ser candidato a governador, mas foi enfaticamente refugado pelo campo progressista - e no lado bolsonarista já estava, bem antes dele, o deputado Wagner Sousa (UB), o que lhe negou essa opção.

Antes de seguir, uma observação necessária: de que forma deve imaginar ser recebido pelos petistas o político que, na presidência do Senado, não moveu uma palha para impedir a violência antidemocrática que foi o impeachment de Dilma Rousseff (PT)?

Sobrou para Eunício, então, exercitar a ilusão de que é cacique político e não um endinheirado que busca o poder. Da tribo que comanda, escolheu um nome desconhecido, Renata Almeida, fisioterapeuta, e a apresentou como candidata a vice de Elmano. Teve ela de amargar a rejeição, restando-lhe pedir para sair e, sem desculpa melhor, dizer que estava sendo vítima de fake news e de hostilidades nas redes sociais.

Sem Renata, coube-lhe apontar Jade - certamente ignorando as dúvidas sobre a situação político-administrativa-funcional dela.

Agora, Eunício deve estar em dúvida até sobre o futuro político que pode vir a ter.

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Capitão Wagner quer se descolar de Bolsonaro, mas Bolsonaro não deixa; vice é como tatuagem na testa

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

O deputado Wagner Sousa (UB), candidato bolsonarista ao Governo do Ceará, vem dando repetidos avisos ao presidente da República. É como se dissesse, mesmo que sutilmente: "não se aproxime tanto do meu palanque, não queime o meu filme". Quando teve de abraçar Jair Bolsonaro num ato evangélico-eleitoral na Praia de Iracema, rodeado de motoboys contratados para dar volume a uma motociata do presidente, o capitão reformado da PM cearense deixou, pela falta de jeito no gesto, o quanto se preocupa ao expor a relação.

Mas não tem adiantado muito, deve-se supor.

Wagner pode até tentar não se vincular tanto à imagem de Bolsonaro, mas não escapa da sombra bolsonarista. A cotação do nome do deputado federal Raimundo Gomes de Matos (PL) como parceiro de chapa é outro elemento a reforçar o constrangimento. Até um mês atrás, o deputado Wagner contava com a possibilidade de ter uma mulher como vice, achando que assim poderia se aproximar do eleitorado feminino. Agora, vai ter de engolir calado a determinação de absorver o ex-tucano na campanha.

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A insistência em deixar clara a vontade de descolamento - ou, no máximo, de cautelosa aproximação - vinha sendo tão intensa que até estimulara nos comitês adversários verdadeiras expedições à Internet e a arquivos de jornais e TVs em busca de imagens e textos que mostrem que Wagner é como Bolsonaro e vice-versa.

A situação chega a ser constrangedora: Wagner é líder nas pesquisas de intenção de voto feitas até então e, por isso, sofre pressões - legítimas e cabíveis à disputa pelo poder - dos demais candidatos. Mesmo assim, não pode contar com o amparo daquele que o inspira politicamente e com quem tem afinidades éticas.

Dados os baixíssimos índices de popularidade e de apoio manifestados a Bolsonaro e à gestão, associados às constantes trapalhadas cometidas por filhos, ministros, pastores, aliados no Congresso e pelo próprio presidente, claro, é mesmo mais prudente que qualquer projeto eleitoral mantenha distância segura dele.

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Vez por outra nos deparamos com a pergunta: por que os grandes partidos brigam tanto pelo apoio de partidos que mal têm votos?

De fato, pode parecer estranha a movimentação das coligações maiores em busca de alianças com os ditos nanicos. No Ceará, o Solidariedade e o Progressistas ganharam espaços no noticiário por idas e vindas no cenário pré-eleitoral, tendo os nomes citados em negociações com PDT, PT e UB.

Há pelo menos três razões para tanta mobilização. A primeira diz respeito ao fundo eleitoral. Só para permanecer nos exemplos mencionados, observamos que caberá ao Solidariedade a fatia de R$ 113 milhões para gastar nacionalmente. O Progressistas disporá de R$ 344,8 milhões. A origem dessa dinheirama toda é o bolso do contribuinte, claro. A repartição dos valores entre as representações estaduais depende de critérios proporcionais.

O segundo motivo tem a ver com o tempo com que as siglas disporão na propaganda eleitoral de rádio e TV.

A terceira razão se refere às composições nacionais, que sustentam as candidaturas à Presidência da República.

Ou seja, os nós apertam em locais e com forças diferentes. Mas apertam.

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Bolsonaro retrata o medo da elite de se sentir igual a todos

Artigo do jornalista Roberto Maciel

O presidente Jair Bolsonaro vai encerrar o mandato dele em 31 de dezembro - e, estimam observadores da política, há de ser só um - sem oferecer nenhum ganho real à população. Sem exagero, nem ganhos irreais ele tem condições de apresentar. Até o mundo ficcional mostrou árido para quem respira e exala fake news.

Bolsonaro não construiu nenhuma universidade nem fez obra viária que valesse uma placa sequer. Não acrescentou melhorias ao sistema de saúde, não implantou avanços na educação (na verdade, implantou atrasos), nada opôs à desigualdade social. Não melhorou os sistemas culturais e ainda deixou atolados os índices de desemprego. Não protegeu o ambiente natural nem com o saneamento básico das cidades. Não qualificou trabalhadores. Não realizou projetos habitacionais. Também não qualificou as relações internacionais do Brasil.

Jair Bolsonaro e os aliados que recrutou deixaram a política em avançado estado de decomposição. São apenas o retrato de uma elite atrasada e excludente, nunca espelhando o que o cidadão espera e precisa.

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No sentido oposto às demandas sociais, no entanto, pode-se dizer que o presidente da República foi bem-sucedido em impor incertezas e rancores. Nenhum governante dos anos pós-ditadura militar se mostrou tão refratário assim à Democracia.

Quanto a isso, recorremos ao jornalista e escritor Ruy Castro, em artigo publicado ontem (4.8) pelo jornal "Folha de S. Paulo": "Abra o olho, porque as coisas vão esquentar. Bolsonaro está a ponto de perpetrar um grande absurdo, maior do que tudo que cometeu até hoje - algo que porá contra ele até setores que ainda o apoiam no Congresso e nas Forças Armadas. Fará isto de caso pensado. A intenção é provocar uma medida, vinda não se sabe de onde, que o impeça de concorrer às eleições. Isso insuflará o seu discurso de que só assim conseguem derrotá-lo e convocará para a briga seus seguidores, que detêm hoje um poder de fogo maior que o dos quartéis".

E continua: "Bolsonaro sabe que já perdeu. Se de há muito os números não lhe estão a favor, a campanha os tornará piores ainda quando, descabelado, aos gritos e palavrões, seu descontrole ficar claro até para os papalvos que ainda acreditam nele. Temendo uma derrota no primeiro turno, Bolsonaro não pode esperar por um 6 de Janeiro, como ficou conhecida a invasão do Capitólio pelas hordas de Trump. Precisa de um 6 de Janeiro antes de 2 de outubro. Talvez a 7 de setembro. Talvez antes".

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Renata Almeida desiste de candidatura a vice-governadora e abandona chapa de Elmano

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

A fisoterapeuta Renata Almeida, indicada pelo ex-senador Eunício Oliveira (MDB) para ocupar as funções de candidata a vice-governadora na chapa petista liderada pelo deputado Elmano Freitas, não passou nem 24 horas na posição. Hoje de manhã, ela anunciou ao partido que renunciaria. Renata alegou questões pessoais, citando também ter recebido "ataques" nas redes sociais na Internet.

Renata escreveu: "Diante da série de ataques que tenho recebido nas redes sociais desde o momento em que meu nome foi anunciado como pré-candidata ao Governo, com muitas Fake News que atingem duramente minha honra e de minha família, resolvo renunciar à minha candidatura. Entendo que a política deve ser usada para promover o bem e a união, e jamais para agredir as pessoas e tentar destruir reputações por parte de adversários. Lamento muito mas, para proteger meus filhos e minha família, minha decisão de saída é em caráter definitivo.

Continuo firme defendendo o Elmano para Governador, Camilo Senador e Lula Presidente.

Renata Santos Almeida"

O ex-governador Camilo Santana se manifestou assim nas redes sociais: "Respeitamos a decisão pessoal de Renata Almeida de sair da disputa na vice e prestamos solidariedade pelos ataques que sofreu junto com sua família nas redes sociais. O projeto segue firme. Nossa luta é por um Ceará cada vez mais justo e solidário, livre da intolerância e do ódio".

A decisão sobre quem substituirá Renata não foi ainda divulgada pelo MDB, mas o partido deve enfrentar dificuldades. É que parte dos militantes com potencial de voto está comprometida com candidaturas próprias ou com postulações de aliados.

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Ciro Gomes e Luizianne Lins - juntos ao lado do Capitão Wagner

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

O título desse texto despretensioso pode parecer estapafúrdio para uns. Outros poderão classificá-lo de agressivo. E uma terceira parcela (terceira via?) pode tachar o autor de maluco, irresponsável, fdp.

Tudo é possível.

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Palavras atribuídas à ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins pelo site Miséria (https://www.miseria.com.br/ultimas-noticias/politica/em-entrevista-exclusiva-luizianne-lins-fala-sobre-eleicoes-e-relacao-com-capitao-wagner/) - baseado no Cariri cearense - e reproduzidas no jornal O Povo (https://www.opovo.com.br/eleicoes-2022/2022/08/13/apesar-de-opositora-luizianne-diz-ter-boa-relacao-com-wagner-diferente-do-bolsonarismo-classico.html): "Eu tenho uma relação pessoal boa com o Wagner. A gente tem que aprender isso na política. A gente tem que ser generoso, até porque eu acredito que as pessoas, elas precisam ter relações cordiais, relações importantes. Eu sou colega de parlamento do Wagner".

Sim, como registramos, tudo é possível, até a petista Luizianne estender um tapete vermelho e acenar com uma bandeira branca para um bolsonarista, o deputado federal Wagner Sousa (UB), que, representando a direita, tenta se eleger governador.

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Palavras atribuídas ao ex-governador do Ceará Ciro Gomes pelo jornal O Povo (https://www.opovo.com.br/eleicoes-2022/2022/08/16/ciro-pode-ser-que-esteja-na-hora-de-entregar-ao-capitao-wagner-para-dar-valor-ao-que-tem.html), anotadas em entrevista que ele deu ao programa Roda Viva, na TV Cultura: "Pode ser que esteja na hora de a gente entregar para o Capitão Wagner lá, o cara do Bolsonaro. Quem sabe a gente aprende a dar valor ao que tem. Se não, ok".

Sim, como registramos, tudo é possível, até pedetista Ciro estender um tapete de rosas e acenar com a bandeira trabalhista de Leonel Brizola para um bolsonarista.

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A ordem, pelo visto, é atrapalhar a campanha de quem se atreveu a não fez aliança com os grupos aos quais pertencem um e outro. Ao elogiar o candidato relacionado ao neofascismo, Luizianne faz pontaria contra Roberto Cláudio - que é aliado de Ciro.

Ao elogiar o candidato relacionado ao neofascismo, Ciro faz pontaria contra Elmano Freitas - que é aliado de Luizianne.

Ambos boicotam a si mesmos e, como se vê, ao eleitor.

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Mais de Luizianne: "Ele (Wagner) poderia ter escolhido outro caminho, até porque ele é bem diferente do bolsonarismo clássico que está colocado aí, né? Infelizmente (grifo nosso) nós estamos neste momento assim, de forma oposta na história".

Mais de Ciro Gomes: "Hoje o Lula está agarrado lá (no Ceará) com Eunício Oliveira (MDB), junto com Camilo Santana (PT). Isso que é o progressismo de goela, que eu vou enfrentar."

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Como se diz aqui no Ceará, "aí dentro!".


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Ciro no JN: o enfezado Sargento Pincel não foi, mas mandou o boa-praça Didi representá-lo

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

O presidenciável Ciro Gomes (PDT) deu entrevista ontem ao Jornal Nacional, da Rede Globo. Posou de bom moço. O agressivo e hostil candidato, capaz de atacar ferozmente o ex-aliado Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não compareceu à bancada. O camarada durão parece ter ficado em casa e enviado em seu lugar um sujeito equilibrado, ponderado, mais interessado em expor propostas do que em distribuir safanões. Um cara melhor de conversa do que de pancada.
Foi como se o enfezado Sargento Pincel deixasse de ir ao quartel e tivesse pedido ao sorridente e malandro Didi Mocó para representá-lo (perdão pelo gracejo, mas não pude contonar a referência sobralense).
Ou como se o aguado suco de maracujá tivesse sido substituído por algo mais potente e eficiente.
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Após o programa, houve quem avaliasse que Ciro alterou o comportamento porque havia analisado, tardiamente, que ofender Lula não é bom caminho. Não que isso não atraísse ou mantivesse votos com ele, mas porque isso também favorece Jair Bolsonaro (PL) - essa óbvia constatação parece não ter encontrado guarida no comitê do ex-governador do Ceará.
Houve também quem se questionasse a respeito do estilo paz & amor (ou "paz e bem", como costuma repetir o senador Luís Eduardo Girão, um entusiasmado apoiador do grosseiro e belicista Bolsonaro). "Como ele tenta se fazer de bonzinho, se foi o responsável pelo traumático racha da aliança PT-PDT no Ceará?"
Outros ainda quiseram saber a razão de ele ter poupado Lula daas pesadas críticas que se habituou a fazer - chamar o ex-presidente de "ladrão" era a mais suave das manifestações verbais do pedetista.
Há, é verdade, muitas hipóteses para a postura cometida de Ciro. Entre essas, a de que a exposição de um áspero e rabugento político em horário nobre lhe imporia perdas mais graves à imagem do que já amarga. Outra é a de que as pesquisas de intenção de votos favoráveis a Lula o inibem por indicar um horizonte que privilegia o petista.
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No fim das contas, qualquer que seja a leitura correta, deve-se reafirmar o que se diz correntemente há décadas: Ciro é um cara inteligente.
E, sendo isso mesmo, é melhor para ele ter a possibilidade de se acomodar num cantinho confortável na política futura do que ter de correr atrás da caravana.


Sextou: a fala política versus o discurso de ódio

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

A grande questão é saber, ou supor, o que vão dizer aos eleitores.

Deve ser dessa prateleira que sairão discursos variando da indignação à cara-de-pau, dos planos mirabolantes à incapacidade de formular ideias, de ameaças à Democracia a apelos por resistência.

O eleitor pode, por conta própria, se municiar de recursos para avaliar palavras, pensamentos, atos e omissões dos que lhe pedem votos. Entrevistas e debates são uma fonte interessante, mas desde que o espectador esteja abastecido de informações bem apuradas e saiba como diferenciar o que é real do que é fake news.

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Só não viu quem não quis ver.

A degeneração veio mesmo, mas não como uma força incontrolável - e, sim, como um espasmo que pode ser contido pelo voto, pela inteligência e pela responsabilidade.

A propósito de propaganda eleitoral, registre-se que não há cobrança aos partidos pela exibição em TVs e rádios. Por isso é chamada de "gratuita". As emissoras, que são concessões públicas delegadas a empresas privadas, reclamam horrores e vez por outra insinuam que deveriam receber algum dinheirinho pela veiculação.


A entrevista de Lula ao Jornal Nacional "ainda repercute"

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

- O que é que eu escrevo? Falei com todas as fontes e ninguém informou nada de novo...

Era só brincadeira, claro, mas geralmente o engraçadinho ouvia de volta alguns impropérios carinhosos e sem efeito.

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De volta à cena política com a tarefa de enxotar o neofascismo representado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelas alas ligadas à extrema-direta, Lula é visto por muitos como a única esperança de resistência da Democracia num enfrentamento com o que há de mais retrógrado, rancoroso, vingativo e perigoso.

Em pelo menos duas passagens na entrevista a Bonner e Renata, o ex-presidente da República citou o ex-deputado e ex-presidente da Câmara federal, Eduardo Cunha, então no PMDB. Falou apenas "Eduardo", como se houvesse esquecido o sobrenome do personagem, mas deixou bem claro de quem se tratava. Disse que o sujeito havia cometido ações que prejudicaram fatalmente a gestão da presidenta Dilma Rousseff (PT), o que desaguou no impeachment.

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1. Lula, cavilosamente, deixou de dizer que o presidente do Senado na época era o alagoano Renan Calheiros (MDB). Renan, hoje aliado, deixou correr frouxa na Casa uma enxurrada de barbaridades legislativas, alucinações éticas e sandices políticas contra a Democracia. Não se posicionou contra aquela violência;

3. Não falou que havia sido ele quem aprovara o nome de Michel Temer, então deputado federal pelo PMDB de São Paulo, para compor como vice de Dilma Rousseff à Presidência da República em 2010 - Temer, uma traíra política de hábito conhecidos pela política nacional, passou a conspirar contra a presidenta a partir do momento em que Lula o confirmou na chapa, cuidando, pessoalmente, de provocar um enxurrada de barbaridades legislativas, alucinações éticas e sandices políticas contra a Democracia;

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Afinal, a entrevista ao Jornal Nacional já entrou para a História. Como vai repercutir em alguns anos, aí é que são elas.

Prefiro Ciro... calado


É mais ou menos isso - há, no popular, uma versão que diz: "Não sabendo o que falar, melhor calar".

Diante de tantos elogios, Ciro saiu-se ontem com essa, após gastar bons e preciosos minutos falando para empresários na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro - a sentença servia, segundo ele, para definir que o que fizera ali não era uma aula:

Arrancou risos de severos industriais, muito mais interessados em lucros, percentuais, gráficos, receitas e negócios do que em chistes de candidatos ou nas capacidades dos favelados. Mas também produziu indignação e reclamações de representações do ambiente em que, para ele, se encontra o "serviço pesado".

Ciro, querendo ou não, agrediu moral e intelectualmente uma massa enorme de pessoas que, diferentemente do que supõe, não seria como a "gente preparada" da Firjan. Uma massa que não frequenta gabinetes, não sabe o que fazem as federações de indústrias, não participa de decisões governamentais ou parlamentares nem de licitações.

Uma massa de gente preparada, sim, que rala no dia-a-dia, se balança no trem da central, se aperta em casebres para enfrentar as dificuldades de sobreviver no Brasil de hoje.

Sobre Ciro Gomes, o publicitário cearense Ricardo Alcântara, escreveu também ontem nas redes sociais que mantém:

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Ricardo tem razão em cada palavra do que escreveu: é melhor não perder o juízo.

Artigo do jornalista Roberto Maciel

Assim como reconhece dificuldades para explicar na favela temas da economia, caros aos megaempresários da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), que seriam "extremamente técnicos - capazes de serem entendidos por poucos", também faz questão de não levar para palcos como o da Firjan assuntos dos favelados.

Sim, Ciro faz certo ao não levar para a favela um vocabulário tão complicado, com temas tão espinhosos. Favelado, na noção que ele tem, não vai mesmo compreender termos que misturam tecnicismo e expressões de outros idiomas.

Ciro Gomes, assim como poupa a favela de explicações sobre o PIB e das tensas relações comerciais e diplomáticas entre o governo brasileiro, a Argentina, a China e o resto do mundo, também não expõe ao empresariado o aperto que famílias têm para pagar no fim do mês a conta da mercearia.

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A razão de Ciro ter míseros sete pontos percentuais nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência é que não é difícil de entender.

Capitão Wagner e uma enganação contra o eleitor que envolve o FBI

Que cuide o Capitão Wagner.

Ele tem prometido ao incauto eleitor que trará para o Ceará uma base da polícia federal norte-americana, o FBI - que também virou uma espécie de ícone hollywoodiano. Adicionalmente, Wagner se coloca como um especialista em segurança pública, um experimentado policial militar que vivenciou o combate ao crime nas ruas.

Primeiro, o estabelecimento de uma base do operoso Birô Federal de Investigação fora dos Estados Unidos exige formalidades que não se podem sacar do colete de um dia para o outro. A mais expressiva e decisiva delas seria a anuência dos ministérios das Relações Exteriores e da Justiça, em geral com a participação do Ministério da Casa Civil da Presidência da República.

Depois, porque não apresenta nenhuma autoridade do Governo dos Estados Unidos como fiadora da promessa. Traz somente um ex-agente do FBI, chamado George Piro, que não tem mais relação com o órgão - do qual saiu após um nebuloso processo administrativo que apressou-lhe a aposentadoria - mas que é um dos contatos profissionais do senador Luís Eduardo Girão (Podemos), patrono de Wagner. Girão é empresário do ramo de segurança privada e mora em Miami, onde Piro mantém uma firma de investigações particulares.

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Já registramos na Coluna do Roberto Maciel que Ciro Gomes - ex-prefeito de Fortaleza, ex-governador do Ceará, ministro nas gestões de Itamar Franco e Lula, ex-deputado federal - tem um currículo invejável para ser jogado na lata de lixo. Mas ele mesmo o está jogando fora.

Nunca teve de enfrentar, como está enfrentando agora, a suspeita de ter se transformado em linha auxiliar da mais abjeta extrema-direita que já se projetou no Brasil.

Ainda no início deste ano, quando o cenário eleitoral ainda estava engatinhando e partidos discutiam a formação de uma opção para quem não queria se submeter à polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro, escrevemos que Ciro corria o risco de deixar de ser visto como "terceira via" e passar a ser definido como "quinta coluna".

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*Nobre dúvida*

Pode-se afirmar, adicionalmente, que o golpe de estado planejado por Jair Bolsonaro e apoiado por empresas e empresários desafetos dos interesses do País era, como ficou provado ontem, apenas um conto do vigário.

Só que ele, com golpe e tudo, brochou.

SEXTA, 9.9

Isso posto, peço licença para registrar uma abordagem que tem me incomodado horrores. A advogada Kamila Cardoso, candidata ao Podemos ao Senado pelo Ceará, vem expondo parte da vida pessoal dela na propaganda eleitoral. Kamila se coloca uma opção para o Estado porque moveu céus e terra para tratar da saúde de um dos filhos.

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A luta de Kamila mostra, sem retoques, que uma mãe pode lançar mão de muitos e muitos recursos para acudir um filho. Que toda mãe pode ser um infinito manancial de amor e desprendimento. A minha mãe fez o que pode pela minha saúde e a dos meus irmãos e faria mais se assim necessitasse. Aposto que o leitor e a leitora conhecem casos, e até testemunham com histórias próprias, desse amor desmedido.

Os programas da parceira de chapa do Capitão Wagner, ambos bolsonaristas, não abordam o drama das mães que não têm o que oferecer aos filhos para saciar-lhes a fome - há 33 milhões de brasileiros passando fome e 66,6 milhões com dívidas.

Kamila não fala disso porque, como bolsonarista que é, não pode fugir do roteiro que o pensamento liberal, conservador, do "cidadão de bem" determina.

Sim, não seria honesto nem justo nem racional nem humano questionar um segundo só da luta que Kamila Cardoso tem posto nas telas eleitorais, da luta amorosa e incondicional pelo filho. A história de Kamila é merecedora de respeito e admiração, sem dúvida.


Segunda, 12.9



O bolsonarismo tem se mostrado aqui, ali e alhures como um manancial inesgotável de manifestações grosseiras, variando entre a ofensa e o crime. Não se tratam de palavras incisivas, duras sobre esses e aqueles temas - às vezes fortes em medidas incomuns, mas aceitáveis do ponto de vista republicano. Nada disso. São, sim, atitudes para ferir, para humilhar, para ameaçar e massacrar.
O próprio presidente Jair Bolsonaro - o "imbrochável", como ele mesmo dianostica, revelando intratável priapismo - é capaz de baixezas irreproduzíveis.
Frente a isso, não há de ser ver diferença entre o que disse o sonegador rural Cássio Canali para uma mulher pobre no Interior de São Paulo e o que vociferou o deputado estadual cearense Francisco Cavalcante - elemento conhecido como "Delegado Cavalcante".
Veja Cássio:
https://www.youtube.com/watch?v=pfEljxxIicY
E Cavalcante:
https://www.youtube.com/watch?v=J6WkqQqdSVM
*** ***
Ambos são personagens repugnantes, não há dúvidas. Mostram-se assim com o orgulho do criminoso e a empáfia do verdugo, certos dos aplausos que recebem de seus assemelhados.
Cássio foi muito cruel, é fato: atacou uma senhora que, vítima da política restritiva e excludente de Bolsonaro, precisa se submeter a receber doações para escapar da fome. Depois, à guisa de se "desculpar", disse que havia cometido a "infelicidade de gravar o vídeo". Isso: a "infelicidade", para ele, não foi a agressão à mulher, mas o fato de tê-la registrado em vídeo (e depois a compartilhar com cúmplices).
Cavalcante foi igualmente longe. Servidor público, posto que é deputado estadual, está ameaçando atirar contra pessoas que eventualmente impingirem uma derrota ao neofascismo brasileiro. Diz que vai ferir ou tirar a vida de quem se opuser aos planos que têm.
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Ambos são iguais: Cássio Canali, o sonegador, tortura uma mulher com fome. Cavalcante, o "piedoso católico" participante do "Terço dos Homens", promete matar adversários.
Problema maior é se autoridade nenhuma se mover para assegurar a eles as consequências legais do que fazem.
======================Quarta, 14.9

Renunciar é a única atitude digna para Ciro Gomes, mas pode-se esperar isso dele?

Restarão amanhã 18 dias para o primeiro turno das eleições deste ano. É uma réstia de tempo, nada mais do que isso, considerando que discussões e articulações sobre a sucessão de Jair Bolsonaro começaram logo após o anúncio do resultado das urnas em 2018.

Os demais postulantes têm referências percentualmente irrisórias.

Diante disso, e observando aqui a proximidade que Ciro teima em enxergar entre si e as fatias progressistas do eleitorado, só sobra ao pedetista - que, não raro, se coloca como herdeiro do legado trabalhista de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro - renunciar e, assim, indicar aos seguidores e simpatizantes voto em Lula.

O ex-governador do Ceará, se distanciando disso, tem dado margem para que bolsonaristas selados, ferrados e encilhados, como o general Augusto Heleno, fiador do presidente atual nos quarteis, o elogiem rasgadamente. Com isso, apostam que pode se reeditar o episódio de quatro anos atrás, no qual Ciro viajou para Paris e deixou que seus eleitores seguissem para a direita. É o que Ciro quer?

Tive uma vez a oportunidade de, em 1988, entrevistar o ex-prefeito de Sobral José Euclides Ferreira Gomes Júnior, o pai de Ciro e Cid Gomes. Ele já estava idoso e reservava para si os papeis de observador da cena política e de eleitor dos filhos - na época, Ciro era deputado estadual e candidato a prefeito de Fortaleza. Cid, por sua vez, tentava ser vice-prefeito de Sobral, imprimindo juventude a uma chapa encabeçada pelo já veterano padre José Linhares.

O ex-prefeito preferiu não arriscar palpite. Prudente e econômico nas palavras, disse mais ou menos o seguinte:

Naquele ano, Ciro ganhou e Cid perdeu. É possível que ambos tenham feito o que era certo.

As circunstâncias agora são bem distintas.

As poucas intenções de votos que Ciro Gomes amealhou são mesmo insuficientes para que galgue degraus significativos, embora sejam ambicionados pelo potencial que têm para, com Bolsonaro, amplificar o discurso de ódio, preconceito, divisão e exclusão social num segundo turno.

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Ciro é bem diferente de Douglas Garcia, mas não faz questão de mostrar isso

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Douglas é uma nulidade oportunista, parida pela catarse antidemocrática instigada a partir de 2013 contra o governo da presidenta Dilma Rousseff (PT). Foi posto nas ruas pelo sentimento reacionário que, em 2018, conduziria Jair Bolsonaro ao Planalto.

Ciro é um intelectual com carreira política solidamente construída - foi deputado estadual, prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, deputado federal, ministro, secretário estadual e executivo de empresa privada.

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E isso se dá porque Ciro está deixando que se dê.

Respeitado em fóruns jurídicos, econômicos e acadêmicos, Ciro Gomes está, na escala evolutiva da política nacional, muitos degraus acima da escória que emergiu das chamadas "jornadas de junho" - denominação com verniz épico dada a graves lesões impingidas à Democracia mundial e aos cidadãos do Brasil.

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O problema é saber se ainda há tempo.

Domingo, 18.9

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Todo esse respeitável histórico está, no entanto, sendo olimpicamente descartado. Certamente, a ação deve estar sendo executada à revelia de Luizianne, mas dela não se ouve uma frase sequer de reação à violência que se comete contra a história pessoal dela - não se sabe se um silêncio voluntário ou por conveniente e marota inação.

Há uma malícia inescondível na utilização do áudio, típica das táticas da direita, que agora cuida de tentar massacrar e triturar pessoas.

Era só mais uma besteira - o resultado da eleição naquele ano, em que Roberto Cláudio venceu Elmano, mostra isso.

Para acrescentar um favor a mais para Wagner - líder de um motim que prejudicou violentamente a paz social em Fortaleza na passagem de 2011 para 2012, quando Luizianne era prefeita -, a deputada havia se saído já este ano com essa pérola: "Tenho uma relação pessoal boa com o Wagner. A gente tem que aprender isso na política. A gente tem que ser generoso, até porque eu acredito que as pessoas, elas precisam ter relações cordiais, relações importantes. Eu sou colega de parlamento do Wagner".

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Uma das utilidades do voto útil é mostrar o caráter birreto de Ciro Gomes

Artigo do jornalista Roberto Maciel

O chamado "voto útil" entrou mais uma vez na pauta político-eleitoral brasileira. Agora, frente à possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva vencer a disputa já no primeiro turno, petistas e aliados têm insistido com apoiadores de outros candidatos que optem pelo ex-presidente nas urnas de 2 de outubro.

Pode-se avaliar como estratégica e extremamente racional a campanha para que eleitores declarados de Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Tronicke (UB) votem em Lula como forma de conter a perigosa onda neofascista levantada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), familiares e outras representações desafetas das garantias civis que a Democracia tem como direitos.

Há quem se manifeste de forma azeda contra essa modalidade de escolha. As senadoras Simone Tebet e Soraya Tronicke não reclamaram tanto da intensidade com que o voto útil tem sido defendido em fóruns acadêmicos, instâncias políticas e redes sociais na Internet.

Esse tem sido azedo, rejeitando perder para Lula algumas das 7% das intenções de voto que tem, mas nunca demonstrando incômodo com a hipótese de a transferência ser direcionada para Bolsonaro.

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O Brasil está repleto de episódios em que alegou-se que votar em "X" poderia ajudar a salvar o municípios, estados e o País de "Y". Em Fortaleza, em 1988, peemedebistas pediram abertamente o voto útil em Ciro Gomes contra o pedetista Edson Silva e Ciro ganhou a eleição para prefeito - há exemplo melhor?

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Mas Ciro Gomes, que faz birra por suas vontades juvenis, bate o pé e insiste em colocar a Nação (mais uma vez) à beira do abismo.

SEGUNDA-FEIRA, 19.9


Isso não é só uma maluquice como as da cidade de Ratanabá, do kit gay, da mamadeira erótica e da Terra Plana. É, sim, um sinal para acionar a violência de gente perigosa que apoia Bolsonaro. É um gravíssimo gesto contra os fundamentos do Estado Democrático de Direito.

Observe-se, imperiosamente, que o genro de Sílvio Santos é Fábio Faria, até recentemente ministro das Comunicações e integrante do Centrão - ente delituoso que opera no Congresso Nacional. Faria deixou o cargo para disputar mais uma vez mandato na Câmara federal, sob determinação da regra vigente.

Jair Bolsonaro e o SBT cometeram mais uma agressão à Democracia.

Todos estão errados e mais erradas estarão as instituições do Estado se não cobrarem a devida reparação aos danos que gestos assim causam aos cidadãos.

O mesmo dispositivo cita, entre outras situações passíveis de punição, o aquilo que for contra "o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais" e "a segurança interna do País".

Para finalizar:

Beatles, Led Zeppelin, Rolling Stones e outras marcas essenciais à arte contemporânea fizeram de Londres uma plataforma para as influências que ainda exercem globalmente.

Bolsonaro, ao desembarcar lá para as exéquias da Rainha Elizabeth II, mostrou que nem tudo é para inglês ver.

SEXTA, 23.9

Começamos com créditos ao site Metrópoles, ontem (22.9) e hoje (23.9):

Pesquisa do Ipec, antigo Ibope, realizada no Ceará e divulgada nesta quinta-feira (22/9), mostra os candidatos Elmano de Freitas (PT) e Capitão Wagner (União Brasil) na liderança da disputa. Os dois estão tecnicamente empatados, com 30% e 29%, respectivamente, dentro da margem de erro do instituto, de três pontos percentuais.

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Pesquisa Real Time Big Data realizada no Ceará e divulgada nesta sexta-feira (23/9) mostra os candidatos Capitão Wagner (União Brasil) e Elmano de Freitas (PT) na liderança da disputa. Os dois estão numericamente empatados, com 31%.

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A pior das notícias para Wagner, no entanto, é a de que - conforme indicam as apurações -, o eleitor tem preferido abraçar propostas, realizações passadas e um discurso de esperança em vez de se enredar com ameaças e imprecações.

Depois, pela incapacidade de derivar do discurso monotemático da segurança para outras pautas caras ao eleitor - Wagner iniciou a carreira se apresentando como especialista em segurança, o que não é, e se perde a cada vez que tenta ingressar em outros campos. Assim, fala pouco de habitação, transporte, geração de emprego e renda, educação e cultura. E, quando fala, não mostra - perdão pelo trocadilho - segurança nenhuma.

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Nesse mesma toada pode se colocar o candidato Ciro Gomes (PDT), que tangenciou o foco trabalhista e até revolucionário de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, para se abraçar à retórica grotesca e de direita dos bolsonaristas. Uma retórica que, admita-se, aparenta ter traços de síndrome persecutória.

Simples assim: Wagner não apenas desidratou. Também se desmontou. E derreteu.

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A hora e a vez do voto estratégico (Ou "O nome disso é Democracia")

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Referências que são, vêm pedindo nas redes sociais que admiradores e apoiadores votem em Lula (PT) contra Jair Bolsonaro (PL), mesmo que seja em detrimento de outros candidatos. O perigo a que o País está submetido pelo neofascismo exige posturas assim, explicam. Ponto.

É direito inalienável dos cidadãos assumir e propor posicionamentos políticos. Nada os impede de assim o fazerem. O dos artistas é muito límpido e visível - não há biombos nem cortinas de fumaça sobre as intenções que os movem.

Antes, o artigo 5º determina que "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX).

Poderíamos também chamá-lo, se preferimos, de "voto de sobrevivência".

É preciso, junto a quaisquer considerações, notar que todo voto é útil - serve para indicar nomes, para marcar posições, para obstaculizar oposições, vetar propostas e, mais do que tudo, sustentar a democracia. Há quem acredite que até os votos debochados, como os que "elegeram" o Bode Ioiô, o Rinoceronte Cacareco, o Macaco Tião e candidatos de verdade, que nada mais fizeram e fazem do que troçar das eleições, têm certo valor político.

Mal mesmo é tentar calar o voto. Negar o direito ao cidadão. Tentar impedir que se discutam os sentidos que a comunidade está tomando e os riscos que está correndo.

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O nome disso, embora assuste e desagrade alguns, é Democracia.

(SEGUNDA-FEIRA, 26.9)

Divulgou-se ontem (domingo, 25.9), nas redes sociais de Ciro Gomes, que o pedetista fará nesta segunda-feira um "importante pronunciamento a nação" numa transmissão ao vivo, às 10 horas, em plataformas de vídeo. Não se antecipou mais nada.Mas escancarou-se, desse modo, um terreno fértil para especulações. Um terreno no qual cabe tudo, por exemplo:1. Ciro vai anunciar que sai da disputa e não apoiará ninguém;3. Anunciará que vai de novo para Paris;5. Que se converteu ao cristianismo ortodoxo e apoiará "Padre" Kelmon;















O "manifesto" de Ciro Gomes tem o efeito de um traque molhado 

O ex-ministro de Lula Ciro Gomes (PDT) tem uma enorme capacidade de frustrar quem dele espera algo impactante, um simples gesto de grandeza, que seja.

Após anunciar para a manhã desta segunda-feira (26.9) um "manifesto à nação", nada mais do que leu em público uma desbocada nota na qual tenta impor aos outros sua própria incompetência para, de modo minimamente equilibrado, conquistar eleitores e votos.

Ciro repetiu o mantra com o qual, sem êxito, vem tentando equiparar Lula e Bolsonaro. E retomou a tentativa de vestir a carapuça de "rebelde".

Detalhe histórico de importância muito maior do que aparenta foi na década de 1980 que Ciro Gomes e Jair Bolsonaro sugiram para a política. Em 1982, Ciro se lançou candidato a deputado estadual no Ceará pelo PDS, com o número 1133 (curiosamente, a repetição dos algarismos 1 e 3, que formam o número do PT nas urnas). Em 1986, Bolsonaro atacou o Exército num artigo para a revista Veja e foi, por isso, punido por indisciplina.

A propósito de Eymael, ele teve oito filiações partidárias - PDC (1962-65), Arena, PDS, PTB, PDC (1985-93), PSDC, PPR, PPB e DC. Já as relações de Ciro com partidos seguem a caminho disso - após estar muito próximo da Arena, devido às posições políticas da família, passou pelo PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB, Pros e PDT.

José Maria Eymael se diz católico, mesma fé religiosa que Ciro Gomes atribui a si. Eymael foi um deputado de expressão opaca. Ciro também. Essa é a sexta vez que o "democrata cristão" disputa o Planalto. Ciro já está na quarta experiência como presidenciável.

(TERÇA-FEIRA, 27.9)

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Empresária, administradora, rica.

Ticiana é daquelas que não se preocupam por não ter dinheiro para pagar contas no fim do mês, das que não precisam gastar tempo nos supermercados e nas feiras procurando ofertas. Não desconfia sequer o que seja xepa. Nem conhece a fila do Sine. Não sabe o que é negociar com o diretor do colégio das crianças um tempinho a mais para pagar mensalidades atrasadas. Funcionários da Enel e da Cagece não precisam ir ao endereço dele cortar energia e água.

Ai daquele que gritar com ela e ameaçá-la com isso ou aquilo.

Os sobrenomes indicam: é herdeira com grupo C. Rolim (que atua em varejo e construção civil, entre outras áreas) e casada com um dos herdeiros do Grupo Edson Queiroz (da indústria, da Imprensa, de bebidas e de de distrituição de gás). Duas mais maiores fortunas com Ceará - e mesmo do Brasil - correspondem a ela. Seria perda de tempo dizermos que "não é pouco". Mas não é mesmo.

Reconheçamos: no deserto de boa vontade e inteligência que avançou no País, o ato de pensar nos outros - ou o simples ato de pensar - já diferencia cidadãos.

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Bem distante do sério e consequente posicionamento de Ticiana, o ex-presidente da Federação das Indústrias do Ceará, Beto Studart - também milionário -, fez vídeo em outra direção.

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É o que temos pra hoje. E para 2 de outubro também.

(QUINTA, 29.9)


Tratemos um pouco de Paulo Guedes (foto acima), ministro da Fazenda. Em 2016, por aí, ele farejou nas ruas a possibilidade de deixar de ser apenas um operador no sistema financeiro para ser o operador do sistema financeiro - atentem para artigos e partículas, pois detalhes fazem enorme diferença.

As concentrações juntavam de militantes do PSOL a neonazistas, de iconoclastas a incendiários, de missionários cristãos a milicianos ferozes. Eram o mais propício caos que poderiam desejar. Estimulado por empresas de comunicação, como Globo, Folha, Estadão e Veja, então, aquilo era a tempestade perfeita.

Para notar ali uma chance de tomar o poder em 2018 foi um pulo:

- Fácil: escolhemos alguém que tenha vivência política e visibilidade para nos representar. Um fantoche. Ficamos monitorando e manipulando o que fizer, controlando tudo. Vai ser sopa no mel.

Pois bem: a História já registra hoje o quão desastrado foi o plano executado.

É repudiado até por antigos apoiadores.

Paulo Guedes, por sua vez, segue falando bobagens nos campos político e econômico. Além de atacar empregadas domésticas, filhos de porteiros e primeiras-damas de outros países, por exemplo, espalha por aí que o Brasil não tem ninguém passando fome, que é um País com crescimento em V, que se desenvolve e compartilha riquezas como nação nenhuma do mundo.

Foi essa no podcast Flow, mais uma vez esculachando a imagem do Brasil:

Praias não pertencem à Marinha, mas à União. Chamam-se terrenos de marinha" não por serem controladas pela instituição militar, mas pela relação com o mar (depois, ampliada para lagos, lagoas e rios). São assim consideradas desde os tempos de D. Pedro II.

A Marinha do Brasil, instituição centenária e respeitável, não se exime das responsabilidades que tem em troca da pintura anual de quarteis.

Por fim, se são do governo são de todos.

- Precisamos defender o litoral!, alertam autoridades.

- Como, se as vendemos para empresas alemãs?, constatam todos.

Ou, sem rodeios, quer vender o almoço para comprar a janta.

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Artigo do jornalista Roberto Maciel:

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem agenda hoje à tarde (sexta-feira, 30.9) em Fortaleza, numa caminhada entre as praças da Bandeira e do Ferreira no Centro da Cidade. A sequência de atos públicos é, bem dizer, o encerramento da campanha no primeiro turno.

A passagem do petista pela capital cearense tem significado especial para distintas plateias. Lula está, além de reforçando as ações em apoio à candidatura de Elmano Freitas (PT) ao Governo do Estado, acenando para o eleitorado que ainda guarda algum apreço pelo postulante do PDT ao Planalto, o ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes - e quer deixar isso muito claro.

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Sabe também que o simpatizante do pedetista corre o risco, seguindo o comportamento de Ciro, de guinar para o lado de Jair Bolsonaro - e que não se deve, como escreveu Belchior, cantar vitória muito cedo nem levar flores para a cova do inimigo.

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Nesse movimento, reavivar vínculos com o senador Cid Gomes e o prefeito de Sobral Ivo Gomes, irmãos de quem Ciro se afastou, pode ser fundamental - até porque explica, assim, que divergir de um não significa divergir de todos.

E, claro, Lula vem pedir votos.

Antes de desembarcar em Fortaleza, o ex-presidente passa pelo Rio de Janeiro e por Salvador. Vai tentar impulsionar as campanhas de Marcelo Freixo (RJ, pelo PSB) e Jerônimo Rodrigues (BA, pelo PT). São dois nomes fortes, ambos com um pé no segundo turno e até com chances (ainda que em tese) de terminar o primeiro turno com maior número de votos.

No segundo, o professor e ex-secretário de Educação Jerônimo Rodrigues disparou nas pesquisas de intenção de voto e se aproximou muito do candidato do União Brasil. Nesse ritmo, fortaleceu as campanhas lulistas e pode, mais uma vez, anular a influência direitista do chamado "carlismo" (relacionado ao ex-governador Antônio Carlos Magalhães, avô do adversário ACM Neto, do UB). A ida de Lula a Salvador tem mais um objetivo: repelir tentativas de aproximação que ACM Neto fez em direção ao eleitorado petista e à imagem do próprio Lula.

O jogo não admite descuido. E só acaba quando termina.

SÁBADO, 1.10

A incomum engenharia política dos Ferreira Gomes

Os irmãos Ciro, Cid e Ivo Ferreira Gomes estão há cerca de quatro décadas na política. Herdeiros do ex-prefeito de Sobral José Euclides Ferreira Gomes Júnior, os "FG" - como costumam ser citados em alguns meios - já passaram por toda a sorte de cargos públicos e de partidos.

Ciro foi prefeito de Fortaleza e Cid de Sobral - cargo agora ocupado por Ivo. Os três foram deputados estaduais, sendo que Cid presidiu a Assembleia Legislativa. Os dois mais velhos também governaram o Ceará e alcançaram funções ministeriais. Ciro e Ivo foram secretários - o primeiro, de Estado; o caçula, do Município de Fortaleza.

Lia entrou no circuito como candidata a deputada estadual pelo PDT, com a expectativa de obter votos em Fortaleza, Sobral e Caucaia.

Dados os nomes aos personagens, vale observar a divisão efetuada no seio familiar.

Os dois irmãos do "miolo" da família, o senador Cid e o prefeito Ivo, seguiram em sentido diferente. Estão com Elmano Freitas e Camilo Santana.

Pode ser que não tenham a fragmentado o bloco monolítico que formavam de forma premeditada. Pode ser que não tenham planejado irem para lados distintos neste primeiro turno. No entanto, chama atenção a possibilidade de no segundo turno estarem todos reunidos em torno de uma candidatura só.

"E se forem Elmano e RC?", há de perguntar o mais impertinente.

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Mas ainda está para nascer alguém que ponha em dúvida a inventividade política.

SEGUNDA-FEIRA, 3.10

A lição política de Chacrinha

Atribui-se ao apresentador de TV Chacrinha (Abelardo Barbosa, 1917-88) uma frase lapidar: "O programa só acaba quando termina". Entre chacretes, buzinadas em calouros e salgadas mantas de bacalhau, o chamado "Velho Guerreiro" aplicava o dito até no jingle com que marcava as produções das quais participava.

A máxima serve, por exemplo, para refrear animações excessivamente elevadas em disputas como as que se viram neste ano. Como as dos comandados pelo deputado Wagner Sousa (UB), que, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, julgavam estar o candidato diante de uma fácil eleição para governar o Ceará.

Acostumado a liderar motins no setor de Segurança, Wagner não contava com a rebeldia dos votos e com rapidez e a solidez incomuns com que os petistas conseguiram se organizar em torno de Elmano de Freitas, que levou a parada. Fragmentada após a cisão no PDT, a banda progressista desafinou nos primeiros compassos, mas conseguiu voltar à pauta quando Lula entrou no palco. E, com o PT, atropelou bolsonaristas e pedetistas e levou a parada já no turno inicial, mesmo com aperto. Deixou para trás, a propósito, um desagastado e desacreditado Ciro Gomes.

Lula cuidou, ele mesmo, de tentar amainar o calor com que militantes projetavam resultados otimistas. "Não tem isso de 'já ganhou'", disse em diversas ocasiões, sem ser devidamente ouvido. Deu no que deu e o petista segue para o segundo turno com Jair Bolsonaro. Entre as muitas oportunidades que teve para fazer o alerta, estavam aquelas em que se comemorava fora de hora o que seria a vitória de Fernando Haddad em São Paulo - lá, acabou indo com o petista para o segundo turno o opaco Tarcísio Freitas (PL).

O fato é que muita água correu por baixo da ponte entre as pesquisas divulgadas na semana passada e a contagem das urnas. Quem acreditou nas sondagens, teve de tirar o cavalinho da chuva. E vai ter de olhar com mais desconfiança o que lhe for apresentado nessa seção final das eleições.

E é cabível também lembrar que eleição, como ensinou o não-filósofo Chacrinha, "só acaba quando termina".

SEGUNDA-FEIRA, 3.10

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Tudo se fez conforme a vontade dele. Ou quase tudo.

Alegando ser professor de Direito, Ciro encampou teses que fizeram do chamado lawfare um marco abjeto da história jurídica do País. Por fim, recusou energicamente qualquer sugestão de recuo e, sem confrontar o neofascismo crescente, negou-se a formar uma frente ampla de apoio a Lula.

Até no Ceará, onde faz política desde as fraldas, perdeu para a senadora emedebista Simone Tebet (MS). Brigou com irmãos e fez naufragar a candidatura do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT). Não é pequeno o estrago causado.

Há quem diga que ele dorme e acorda pensando nas negativas de apoio que Lula deu a ele em 2010 e quatro anos atrás. Primeiro, quando escolheu Dilma Rousseff para disputar o Planalto, depois, quando, pensando partidariamente - como faz sempre -, Lula optou por Fernando Haddad (PT) como candidato para substitui-lo nas eleições presidenciais.

Originado na esquerda pós-ditadura, quando o ex-governador gaúcho Leonel Brizola perdeu para Ivete Vargas a marca do trabalhismo que havia no PTB, o PDT seguiu ao longo dos anos como nicho de acadêmicos, estudiosos e intelectuais. Acolheu também gente dos sindicatos e dos parlamentos. Fez uma significativa história. Foi lá, por exemplo, que Darcy Ribeiro construiu trincheiras políticas - é dispensável recordar que Darcy foi um dos maiores pensadores do Brasil em todos os tempos.

A decisão é grave e o tempo é curto.

SEGUNDA-FEIRA, 10.10

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Logo, tornou-se representação de proa na campanha petista. Passou a atuar na linha de frente dos que confrontam a milícia digital a serviço de Jair Bolsonaro e da direita. Incisivo, direto, corajoso (intimorato, escreveriam os belíssimos cronistas mineiros), bem-humorado e acidamente crítico, André Janones foi "pra cima", como se diz popularmente.

Assim, mudando o foco e o cargo disputado, Janones abarcou em 2 de outubro 238.967 votos em Minas Gerais, garantindo novo mandato na Câmara dos Deputados. Os apoios superaram significativamente os que havia obtido em 2018, quando recebera 178.660 votos - foram, então, 60.307 votos a mais.

Chama-se Fernando Collor de Melo (foto abaixo, com Bolsonaro), senador do PTB por Alagoas. Eleito presidente da República em 1989 com apoio maciço das grandes corporações, foi o primeiro mandatário levado ao Palácio do Planalto pelo voto direto após a ditadura dos militares imposta em 1964.

A política tratou de evacuá-lo novamente.

Nada, absolutamente nada. Política e eticamente, ambos divergem em profundidade e largura. Para se ter ideia, o irmão de Collor chamou de "trajetória de um farsante" a folha corrida do senador. Pedro Collor denunciou a deformidade moral do então presidente a foi peça central no desvendamento da corrupção e no impeachment.

É aí que André Janones cruza o caminho de Jair Bolsonaro e de Fernando Collor de Melo. O deputado federal eleito usou as redes sociais neste fim de semana para apontar mais um perigo ao qual os brasileiros estão submetidos: um fôlego adicional de poder ao ex-presidente.

Segundo o deputado, esse seria um golpe do qual o País jamais poderia se reerguer. Fala de Janones:

Primeiro, porque o apoio de Collor a Bolsonaro em Alagoas teria de ser retribuído - e política é, de fato, um jogo de concessões e compensações.

Depois, porque Collor perdeu tudo o que tinha, assim como o PTB também minguou consideravelmente: elegeu apenas um deputado federal (um opaco vereador de São João do Meriti, RJ, chamado "Bebeto") e não garantiu nenhuma cadeira no Senado.

Bolsonaro negou? Claro. Medalha de ouro em fake news, embora tenha sido capaz de confessar que comeria carne de gente, estranho seria se ele reconhecesse a verdade.

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O que as crianças podem esperar hoje de Bolsonaro? 

Era desassistida ao ponto de aparecer no noticiário alvejando amigos e parentes com armas dos pais, de se destacar por pedir desesperadamente que policiais levem alguma comida para a família delas ou por terem negado o direito básico de estudar por pastores que, juntos numa quadrilha, exigiam propina em ouro por desvios engendrados com o Ministério da Educação.

Ou não.

Sabem, o leitor e a leitora indispensáveis, que sob Bolsonaro o Brasil conseguiu os piores índices do século em vacinação contra doenças como a poliomielite?

Damares traz uma chaga especial a queimar-lhe o lombo e a alma: ela, de própria vontade, confessou publicamente que, quando ministra de Bolsonaro, tomou conhecimento de graves e crueis abusos sexuais cometidos contra crianças. Não há, no entanto, registro de comunicação à Polícia Federal, ao Ministério Público e à Justiça de nenhum dos fatos relatados diante de um aterrorizado público de crentes.

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Damares cumpriu a missão que Bolsonaro lhe deu: criou nova "mamadeira de piroca" e fez com que Imprensa e opinião pública dançassem a música que escolheu

A ex-ministra Damares Alves não é uma doida varrida qualquer.

Isso a torna aliada especialíssima de Bolsonaro. Feita sob medida para o "trabalho sujo". Nunca para dizer algo que valha ser levado em consideração, mas para arrastar a atenção popular para o oposto das polêmicas que cercam o presidente da República.

Num evento com famílias evangélicas, lotado de crianças, Damares Alves arregaçou o repertório de mentiras que compõe para falar de sexo oral e sexo anal, mutilações e sequestros. Espalhou pânico moral sob o pretexto de estar apenas expondo a obsessão que a consome. Esse episódio já é por demais conhecido e não vou requentá-lo. Não vou entrar na de Damares.

O próprio presidente admitiu a tendência antropofágica em entrevista ao jornal The New York Times e isso vinha-lhe causando perdas de eleitores. Sentiu e chamou a Damares, simples assim.

Damares Alves não é anedótica. É, sim, perigosíssima por induzir pessoas à mais deformadas compreensões. Damares é criminosa.

Nunca, nunca ache que Damares é uma doida varrida qualquer.

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Bolsonaro não é mal-informado nem ingênuo. Ele é mal-intencionado mesmo

O presidente Jair Bolsonaro, à procura de convencer os brasileiros a votarem nele em 30 de outubro, tem pespegado uma mentira a mais - é sobre o preço da gasolina, que diz ser um dos "mais baratos (sic) do mundo". Diferentemente de outras lorotas, porém, essa não se mantém diante de uma conta matemática muito simples.

Isso nos induz a concluir que existe, realmente, um problema grave do presidente com números, mas mais grave mesmo é o problema dele com a verdade e o caráter.

Você acredita mesmo nisso?

Suponha que um motoboy em Fortaleza receba pagamento de R$ 1.500,00 por mês e que um litro de gasolina custe R$ 5,00 nos postos. Um litro do combustível representará, então, 0,33% dos ganhos do trabalhador. 

Quem você acha que paga mais?

Outro problema é que o presidente da República tem assessores em vários temas que, certamente, são capacitados para informá-lo sobre o que ele vem perpetrando. Se não fazem isso, é porque são cúmplices ou porque são negligentes.

Encerramos com uma frase dele sobre as 1.439 crianças que morreram na pandemia de covid-19 em 2020 e 2021:

Se ele reduziu a morte de 1.439 crianças a "número insignificante", por que também não trataria a sopapos o preço da gasolina?

SEGUNDA-FEIRA, 17.10

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Quando integrava a magistratura, liderou uma camarilha que deformou a lei e a Justiça para lucrar com a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), impedindo-o de ser candidato a novo mandato em 2018 e de eventualmente vencer as eleições - o que naquele ano vinha sendo projetado por institutos de pesquisa. E lucrou.

Depois, largou a Judiciário e o trocou pela vaga de ministro da Justiça e Segurança Pública de Jair Bolsonaro, que havia sido eleito graças à corrosão moral que Moro e a Operação Lava-Jato impuseram ao País. Acabou sendo humilhantemente despedido por Bolsonaro, com o qual não se entendeu na posse do poder na Polícia Federal. Continuou lucrando, porém.

Por fim, deu uma rasteira no senador Álvaro Dias e ocupou eleitoralmente a vaga do paranaense, que o havia recebido no Podemos.

Está, como de costume, enxergando a possibilidade, qualquer que seja, de levar alguma vantagem.

O ex-juiz, senador eleito, estava à venda e foi comprado, como se compra uma arma de numeração raspada, clandestina, perigosa e com finalidade mal-intencionada, pelo ex-capitão.

Mas a pequenez de Moro jamais o levará à obra de autor nenhum que se preze. Nem de ficção barata e nunca do porte do Anjo Pornográfico.

TERÇA-FEIRA, 18.10

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Não é certo dizer que "Jair Bolsonaro dispensa adversários, porque o que ele faz por conta própria já o complica demais".

Hoje, posando com cara de bom moço ao lado da primeira-dama, Michelle, e de uma senhora com cara de poucos amigos, o presidente da República gravou vídeo no qual se desculpa por ter dito que adolescentes venezuelanas que havia encontrado numa uma casa na periferia do Distrito Federal iam "fazer programa".

Era mais uma mentira. E - sabemos todos nós, Pantaleão e Pedro Malazarte - uma mentira puxa a outra.

No pedido de desculpas, a mulher de cara aborrecida que aparece com o casal se chama Maria Teresa Belandria. Ela se apresenta como "embaixadora" da Venezuela no Brasil (e ontem até foi citada dessa forma pelo portal UOL, que consertou a informação depois), mas não o é.

Juan Gaidó é festejado pela extrema-direita, mas não passa de um extremo-vigarista.

Se tivesse traços, mínimos que fossem, de correção e respeito ao serviço público, Jair Bolsonaro teria dado - ele mesmo - voz de prisão à embaixadora-falsária.

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Damares cumpre o papel que Jair Bolsonaro lhe deu: criou a nova "mamadeira de piroca" e fez com que a Imprensa e a opinião pública dançassem a música que ela escolheu

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Advogada, detentora de larga experiência como assessora de gabinetes parlamentares e pastora evangélica, domina com excelência a lida de falar com grande públicos. Sabe tanger audiências de todos os portes para o lado que interessa a ela e a quem presta serviço.

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Num evento com famílias evangélicas, lotado de crianças, Damares Alves arregaçou o repertório de mentiras que compõe para falar de sexo oral e sexo anal, mutilações e sequestros. Espalhou pânico moral sob o pretexto de estar apenas expondo a obsessão que a consome. Esse episódio já é por demais conhecido e não vou requentá-lo. Não vou entrar na de Damares.

O próprio presidente admitiu a tendência antropofágica em entrevista ao jornal The New York Times e isso vinha-lhe causando perdas de eleitores. Sentiu e chamou a Damares, simples assim.

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Por conhecer a política e a lei, utiliza-se disso para espalhar mentiras a granel.

Nunca, nunca ache que Damares é uma maluca qualquer.

QUARTA-FEIRA, 19.10

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

"Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... Tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas".

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Voltaremos a Saint-Exupéry, ao princiezinho e à raposinha.

A lembrança da história contada pelo francês nos vem quando, em pleno século XXI, nos deparamos no Brasil com graves episódios de ódio. Situações muito frequentes nos anos em que o autor viveu e morreu. Em nome das liberdades democráticas, com extremas responsabilidade e consciência, Antoine de Saint-Exupéry combateu o nazifascismo, voando como piloto das Forças Francesas Livres em missões contra as tropas de Adolf Hitler.

E, nesse já mencionado "cenário caótico", artistas populares adotaram lados sem que necessariamente observassem a responsabilidade e a consciência que atribuo a Saint-Exupéry. Estavam acompanhando na moda, afinal. Seguiam o rebanho que vaiava a presidenta nos estádios e em concentrações pagas por grandes federações empresariais, partidos e ajuntamentos autodenominados de "movimentos".

O cantor Seu Jorge, por exemplo, foi hostilizado grosseiramente num clube em Porto Alegre (RS) por racistas que identificaram na fala dele algum indício de questionamento às posturas do presidente Jair Bolsonaro (PL). Deixou o palco irritado e amedrontado por ataques de parte do público. Fieis católicos bolsonaristas abordaram padres em serviços religiosos para contestá-los por abordagens em homilias.

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É por isso que volto a Seu Jorge, o cantor negro agredido por racistas. E é por isso que volto a 2013.

"Chega de impunidade

Chega

Não é pelos vinte centavos que estamos lutando

Chega de não ter grana pra pagar

O povo não está brincando

Todo mundo vai pra rua

É uma falta de respeito

Brasil, tá na tua hora

(...)

Brasil, é uma chance rara"

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"O essencial é invisível aos olhos".

Pois é: em 2013, Seu Jorge não sabia disso.

QUINTA-FEIRA, 20.10

Artigo do jornalista Roberto Maciel

É mentira. Fake news, como se chama agora.

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https://www.youtube.com/watch?v=eJmJ1gUhlCs

O TSE negou que tenha enviado notificação a André Valadão. Ou mesmo que tenha tomado alguma decisão específica sobre as mentiras que aquele "representante de Deus na Terra" espalha.

Usou o TSE para, além de acusá-lo falsamente de censura, mais uma vez despejar falsidades na Internet.

Se o TSE quiser mesmo levar a lei dos homens a sério, assim como quiser ser levado a sério, vai tomar as medidas cabíveis - todas - para crimes como os de injúria, difamação e falsidade ideológica. Há normas legais de sobra para enquandrar criminosos do porte de André Valadão.

E vão deixar de pagar dízimo a ele.

DOMINGO, 23.10

Após carnificina da covid-19, sonegação de leite mira no estômago e na vida das crianças nordestinas

"Bota a bola no chão, Roberto!, e tenta ver como será o jogo daqui para frente", digo para mim. Estou certo com essa resfriamento.

Afinal, "nunca antes na história desse País" um presidente deverá ter rejeição tão representativa quanto a que espera por Lula. Primeiramente, por ter sido eleito no segundo turno com mais de 45% dos eleitores (os de Jair Bolsonaro, obviamente) tendo dito em pesquisas que não votariam nele de jeito nenhum. Depois, por estar diante do desafio de uma governabilidade sujeita às vontades e aos caprichos do chamado "Centrão" - um grupo de parlamentares e partidos habituado a abocanhar nacos fartos do dinheiro público.

Vai topar com um furiosa reação e precisará contar com todos e cada um dos que o apoiaram.

Deve-se, desde agora, considerar que a conta deixada por Bolsonaro à cata de apoio e votos nos últimos anos vai chegar ao Palácio do Planalto. E que não se abandonará a ideia de cobrá-la: aliados, adversários, o povo amaciado por promessas insanas do (ainda) governo, donos de armas, empresários criminosos que tentaram impor o voto fascista aos empregados, cantores sertanejos, sonegadores de impostos, há muitos que hão de se arvorar credores do Governo.

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Nenhum é mais seguro do que o do respeito ao povo.

terça-feira, 1.11

Crime e castigo, com a lei pelo meio (Ou "Os cangaceiros do bolsonarismo")

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Não se pode estimar de agora o desfecho ideal para as situações ilícitas que se sucedem - incluindo a omissão que gestores da Polícia Rodoviária Federal cometem. Mas é devido que se cobre a aplicação severa pelas autoridades, sem titubeios, do que a legislação determina.

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Essa, por exemplo:

Os financiadores de atos terroristas também estão sujeitos à mão pesada da lei, assim como agentes públicos que eventualmente ampararem manifestações dessa natureza - com os agravantes previstos para cada caso.

É a propósito disso que se deve lembrar que, embora tenha sido enxotado do Poder nas eleições deste ano, Jair Bolsonaro ainda é o presidente da República. E, como agente público que é, está sujeito a punições compatíveis com o porte do cargo que ocupa e com a gravidade do que faz ou deixa de fazer.

Sábado, 19.11

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Paulo Guedes, o gerente financeiro da aventura irresponsável chamada de "governo Bolsonaro", destila ódio e frustração.

Dialogar sobre o clima e a preservação ambiental com representantes de nações responsáveis, na COP27, realizada no Egito, é sinalizar para investidores e governantes que o Brasil não escolheu destruir a Amazônia (e, por consequência, o planeta). É dizer que, com respeito às leis e reconhecendo a legitimidade das apreensões mundiais, dá para solucionar muitos dos problemas espalhados nos últimos anos pelo golpismo e pelo pós-golpismo.

Conversar com os presidentes da Argentina, do Chile e dos Estados Unidos nada mais é do que corrigir, sem passar uma borracha por cima, garatujas rabiscadas contra a História do Brasil. Retomar o diálogo com a China é, no mínimo, aprumar um caminho de desenvolvimento e fortalecimento comercial.

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Paulo Guedes e seus parceiros têm de compreender que Lula não deve nada a eles. O compromisso de Lula foi estabelecido pela maioria dos brasileiros, não por um grupelho minúsculo que aspira mandar na economia, na política e nas vidas alheias.

Quem precisa calar a boca é quem foi enxotado pelos eleitores.

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Barroso errou com bolsonarista em Nova York. Agora, tem de pedir desculpas aos brasileiros

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

- Perdeu, mané! Não amola!

- Vixe, o ministro foi mal-educado, falou como falam os bandidos! Ai, ai, ai!

Ao me render a tratar desse assunto, tão repetidamente explorado em diversas frentes, admito que identifiquei erros de Luís Roberto Barroso.

Deveria, sim, tê-lo chamado de "imbecil" ou "otário". Ou "babaca". Ou "rachinha", "bananinha", "noivinha do Aristides" ou que mais o valha. Afinal, "mané" é como se fez conhecer o genial Garrincha, anjo de pernas tortas que, como ninguém - inclusive o ministro do STF - driblava humilhantemente adversários afoitos.

Por fim, não deveria ter sequer dado cavaco para questionamentos da parte da imprensa que quer botar, sempre, mais gasolina (mesmo a astonômicos R$ 5,30) na fogueira dos poderes. Em vez de dizer que estava arrependido da fala, deveria, sim, ter laconicamente lembrado que o assediador teve até menos do que mereceu. E ponto final.

Mas devem-se observar no ministro Barroso outros momentos de fraqueza - verdadeiros lapsos de reação. Foi ele, afinal, quem, exercendo a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, acenou para as Forças Armadas com a tarefa de fiscalizar as eleições deste ano. Foi Barroso, com uma decisão que não mediu consequências, quem abriu porteiras para o discurso golpista que ainda hoje arqueja em frente a quarteis.

Moral da história: enquanto a Justiça continuar generosa e complacente com quem a agride, a Democracia vai perder.



Jair já foi embora. Tomara que volte logo, devidamente algemado

Devo me confessar desolado. Não estava na hora do Jair já ter ido embora. Reconheço-me frustrado por o presidente da República, eleito em 2018 por 57.797.847 cidadãos brasileiros (55,13% do total), não tenha honrado as calças que veste e, feito "mariquinha", tenha se escafedido para outro País. Lamento que não tenha evitado a tentação do mimimi.

Jair não deveria ter ido embora. Ele diz que é honesto e patriota. Deveria ter provado isso antes de se borrar todo e de ter partido deixando a família e os admiradores neste País cuja bandeira está em vias de se tornar vermelha. Não deveria ter amarelado.

Jair, capaz de elogiar torturadores e de se revelar admirador do "estrategista" Adolf Hitler, deveria ter ficado. Não deveria ter arredado.

Ora, sim! Jair não deveria ter vazado.

De que jeito vou, agora, olhar para amigos e ex-amigos que, surpreendentemente para mim, adotaram o violento evangelho das armas, da tortura, da exclusão e da perseguição pregado pelo Jair?

Definitivamente, não estava na hora do Jair já ter ido embora.

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Bolsonaro: um leproso (não se usa mais esse termo, eu sei, mas o personagem permite a exceção) político

Artigo do jornalista Roberto Maciel

Considerando essas constatações, que não passam de um mero e superficial olhar sobre uma muito complexa construção humana - além do qual não ouso passar -, sinto-me autorizado a observar que o bolsonarismo tratou, por burrice e arrogância próprias, de cavar o esgoto em que será esquecido. Foi tudo questão de caráter.

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Imagine, por exemplo, se os bolsonaros teriam se unido a milicianos no Rio de Janeiro e a garimpeiros e madereiros ilegais no Norte do País se não soubessem que isso poderia resultar em poder e força. Teriam se servido de um esquema de rachadinhas se isso não lhes rendesse dinheiro? Teriam permitido a farra de propinas das vacinas? Teriam acoitado pastores vigaristas no MEC se isso não os beneficiasse com a manipulação religiosa?

Os bolsonaros tinham noção precisa do que ganhariam em cada situação. Houve em todos os casos, pelo líder, a pesagem criteriosa de ônus e bônus. Sem contar com o império da ganância.

Agora, calcule quantos prefeitos, vereadores, deputados, governadores e senadores estão dispostos, em sacrifício diante do eleitor, a se imolar na pira sagrada do "mito".

Encerre as contas apurando quantos vão fazer declarações e discursos com defesas apaixonadas de uma quadrilha.

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Não trato dos idiotas úteis que oram para pneus ou pedem socorro a discos voadores. Nem de quem acredita em ideologia de gênero e em Olavo de Carvalho - esses sempre estarão aí, zumbis descerebrados que são.

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Nem o Capitão Wagner, que aplica a cartilha de Bolsonaro desde quando impôs o terror no Ceará pela primeira vez, no motim da PM em 2012, se arvora nesse momento de "parça" do ex-presidente. Nem o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa. Nem a deputada Silvana Oliveira. Nem o ex-delegado Francisco Cavalcante. Nem o vereador (agora deputado estadual eleito) Carmelo Neto.

Ninguém, enfim, quer se encostar no Bolsonaro.

Pode ser que surja - não se pode afirmar se vai surgir ou quando surgirá - um novo motor e novos combustíveis para o fascismo. Assim como os nazistas de Hitler foram secundados por "neos" a partir dos anos 1960, o bolsonarismo tem condições de parir filhotes. Dado os níveis atuais de desprendimento da inteligência, da humanidade e da solidariedade, não é possível prever nada nesse sentido.

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E diziam que ninguém queria abraçá-los.

É por aí.

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Recursos hídricos no Ceará: uma política pública que pode ir, literalmente, por água abaixo

Artigo do jornalista Roberto Maciel

E a chuvarada nos encharca também com a necessidade de reflexões.

É a propósito disso que deve-se destacar a costura política que resultou na entrega da Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado ao deputado federal Robério Monteiro, empresário do litoral Oeste do Ceará eleito pelo PDT em 2022 para segundo mandato na Câmara.

A história é a seguinte: o senador Cid Gomes (PDT) teria solicitado ao governador Elmano de Freitas (PT) uma articulação para que se mantivesse como deputado federal o aliado Leônidas Cristino (PDT). Ex-prefeito de Sobral e ex-secretário do Estado, Leônidas é um dos mais estratégicos nomes do cardápio de apoiadores de Cid Gomes. Tem presença forte na Região Norte, chegando ao Oeste do Ceará, embora não tivesse passado de uma suplência na eleição proporcional de 2022.

Teria chamado para conversar o deputado federal Idilvan Alencar (PDT), disponibilizando a ele a relevante SRH. Idilvan não aceitou, alegando que pode ajudar muito mais o Ceará - incluindo as prioridades políticas de Cid Gomes - na Câmara federal, em especial na Comissão de Educação, tema o qual domina como poucos.

Aliados políticos têm sido designados para o exercício de funções que cabem a especialistas com formações e conteúdos adequados. É uma troca no mínimo arriscada.

Em resumo, colocou-se na mesa de negociações políticas uma peça que em qualquer jogo deve ser considerada estratégica; um coringa que precisa estar acima de injunções e conjunturas acabou sendo embaralhado e distribuído como se fosse carta trivial. Um descarte, puro e simples.

De outra forma, há o risco de se colocar por água abaixo, nos sentidos literal e figurado da expressão, um indispensável e custoso conjunto de conhecimentos, saberes, métodos e metodologias.

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O pervertido Bolsonaro quis destruir os yanomamis pela lei e pelo genocídio e até inventou a mentira de comê-los

Artigo do jornalista Roberto Maciel

É portador de uma tara que compreende vontade de matar, ímpetos de mentir, arroubos de vaidade e muita, muita necessidade de parecer forte, invencível e destemido - algo que se condensa no "imbrochável" que cunhou para si. Além de uma obsessão sexual inquestionável. Tudo isso recende crueldade, desprezo à vida e refração do bom senso, da naturalidade das coisas e da aceitação de um mundo plural.

Longe de mim, no entanto, posar de analista de botequim. Afinal, o caso do ex-presidente não é para palpiteiros - como me defino nesse particular -, mas para profissionais, se possível aqueles com mestrado, doutorado, pós-doutorado e que ostentam diplomas de PhD.

Isso posto, copio e colo aqui trecho de matéria publicada no portal UOL, em 10 de maio de 2022: https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/10/05/video-de-bolsonaro-dizendo-que-comeria-carne-de-indigena-viraliza-na-web.htm

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https://youtu.be/v-LXgcCCKik

Rapidamente Bolsonaro foi confrontado com a mentira que havia contado ao maior jornal do mundo.

Por fim, porque quem conhece minimamente a história indígena no Brasil - para isso, basta apenas ter frequentado a escola básica e ter alguma integridade moral - sabe que o canibalismo se dava em rituais de guerra, nos quais os guerreiros de tribos vitoriosas comiam os corpos de adversários acreditando que absorveriam força, coragem e valentia.

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Bolsonaro, além do genocídio, queria comer os indígenas - sem figuras de linguagem; queriam mastigá-los, digeri-los e expeli-los.

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Por que não leiloar as joias que Jair e Michelle tentaram embolsar e converter a renda em comida para carentes?


Sem ter nada de boba, a família mandou um estafeta enfiar o pacote na mochila, bem escondido, e trazê-lo "na maciota" para o Brasil. Um atento e responsável servidor da Receita Federal flagrou a arrumação na alfândega do aeroporto de Guarulhos (SP) e apreendeu o pacote. Daí para adiante foi uma sequência de tentativas frustradas de Jair Bolsonaro para tentar se apoderar das joias.

Faria bem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se, considerando que aneis, pulseiras, canetas e gargantilhas de ouro sem nenhuma representatividade histórica estão ocupando espaços em prédio público, tratasse de promover um leilão em favor de brasileiros que hoje estão submetidos à fome que o governo de Jair Bolsonaro impôs. São, segundo dados admitidos por autoridades públicas, mais de 33 milhóes de homens, mulheres e crianças sem ter o que comer.

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Bruno Lambert e a receita infalível para ser um fracassado também na "comédia" em pé


Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Veja só como a Democracia e a lei podem ser belas e pedagógicas, tudo de uma só vez.

"Você já comeu uma cadeirante? Não? Eu também não. Sabe por quê? Porque não dá (...) Coloquei ela de quatro aqui, ela murchava. Aí você tinha que pegar ela aqui, abaixa… Parece crossfit, entendeu?"

E é aí que entra o caráter pedagógico da Democracia e da lei.

Depois desse caso, quem tiver mazela moral tão aguda vai pensar duas ou três vezes antes de dizer iniquidades.

Não é preciso que os incomodados sejam políticos - como é o caso da deputada paulista Tábata Amaral (PSB), denunciante do "humorista" -, cadeirantes ou familiares de cadeirantes. É preciso, sim, que estejam atentos ao que prevê a lei, para o que o único requisito são a inteligência, o respeito a outrem e a noção adequada de convivência cidadã.

Mais: "A pessoa com deficiência será protegida de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou degradante".

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Uma escumalha humana capitaneada por um certo "Monark", influenciador que diante da mesma Tábata defendeu a descriminalização do nazismo no Brasil, correu para acudir Bruno Lambert e alegar que o "coitadinho" está sendo vítima de censura.

E é claro também que estão, todos os cidadãos, submetidos às mesmas regras a que toda a sociedade brasileira está submetida.

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O direitismo ignorante de Olavo de Carvalho ganha espaços na UFC (ou "Nem só do pensamento à esquerda vive a universidade)

Artigo do jornalista Roberto Maciel

A direita brucutu se organizou com inaudita desenvoltura no Brasil, sempre maldizendo a ciência e o saber. Isso era imaginável depois das movimentações iniciadas 10 anos atrás, com manifestações de rua sob o pretexto de protestar contra aumento de tarifas de ônibus, que tiveram picos até 2016, com o impedimento da presidenta Dilma Rousseff (PT).

Essa tomada de espaços prosperou em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência da República, desembocando neste ano, quando, em 8 de janeiro, hordas invadiram e depredaram de modo articulado e planejado as sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em Brasília.

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Saibam, então, que exotismos associados à paranoia disseminada pelo astrólogo Olavo de Carvalho (1947-2022), que cativou adeptos em diversos ambientes e orienta ideologicamente o bolsonarismo - reedição do integralismo dos anos 1930 e 1940 -, vêm penetrando mesmo em espaços antes refratários a aberrações desssa natureza.

Espanta muito a forma como ideias completamente divorciadas da lógica, da história e do bom-senso avançam sobre campos intelectuais (ou, mais adequadamente, sobre campi universitários) de forma fluida e sem questionamento.

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O que acham, o senhor e a senhora, de vetustos acadêmicos discorrendo sobre "ideologia de gênero" - uma teoria da conspiração que fórum sério nenhum leva em conta nem acredita? Ou do "ativismo jurídico", nebulosa acusação contra juízes que destoa de todos os meios da Justiça?

E o que pensam do tratamento precoce contra a covid-19, irresponsabilidade que levou para o túmulo milhares de brasileiros?

E sobre o inexistente "marxismo cultural", o qual nenhum ideólogo de esquerda já tenha abordado ou mesmo ouvido falar antes de virar tese de trumpistas, pentecostais e bolsonaristas? Ou sobre o ataque virulento ao "politicamente correto", como se a defesa do respeito, da tolerância e da ética fosse descabida.

Ou que se dê fé a um autor desacreditado e desprezado por historiadores de escol, chamado Leandro Narloch, obcecado pelo lucro comercial de livros que tentam desmontar ícones populares com uma série de "guias".

Pois está nessa pauta também o estrilo retórico da "propriedade privada e da família", estandarte da medieval articulação católica Tradição, Família e Propriedade. Também está lá o questionamento ao salário mínimo, acredite!

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Não se trata aqui de xingar ou desprezar ideias alheias, mas de encaminhar o que é inócuo, irrelevante ou inexistente para os locais devidos.

É claro que deve-se considera que ter posturas à direita é tão legítimo quando ao polo oposto, assim como não deve espantar que grupos diversos formem rodas de estudos e debates em pátios e salas de aula para analisar temas políticos e econômicos sob suas óticas conservadoras e liberais.

Faz parte, é da Democracia, e quanto a isso não é justo estabelecer senões.

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A propósito, um grupo originado no respeitado Programa de Pós-graduação em Economia (Caen), foi brindado com página especial no portal da UFC na Internet. Sim, estruturas digitais que custam dinheiro público para serem elaboradas e mantidas, acabam - por tabela - sendo postas a serviço do infértil olavismo.

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É estranho, mas é real. É estranho, mas é um Brasil ainda contaminado pelo bolsonarismo.

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Artigo do jornalista Roberto Maciel

Há um dito popular que sentencia, de forma tão seca quanto questionada, que "a ocasião faz o ladrão". Depara-se, aqui e ali, com um frequente contraponto: "a ocasião não faz o ladrão; o ladrão já está lá, pronto, só esperando a ocasião aparecer".

Não é essa a questão, porém.

Afinal, onde estava com a cabeça o ex-presidente Jair Bolsonaro ao mandar esconder na fazenda do ex-piloto de corridas Nelson Piquet caixas com artigos de valor financeiro elevado? Os bens não eram de Bolsonaro, haviam, sim, sido desviados da Presidência da República de 2019 a 2022, quando recebeu "mimos" (ou sabe-se lá o quê) como estojos recheados de joias.

Bolsonaro não sabia que Piquet tem rolos quilométricos em diferentes instâncias do Judiciário - como, por exemplo, ter sido condenado a pagar R$ 5 milhões de indenização por ofensas racistas com as quais ofendeu o ídolo do automobilismo mundial Lewis Hamilton?

Bolsonaro acha que basta Piquet ter lhe servido como motorista do Rolls Royce presidencial que isso lhe confere crédito? Acha que bastava Piquet ter ameaçado o hoje presidente Lula de morte - "Lula lá no cemitério", disse num vídeo que viralizou na Intenet - que merecia um atestado de probidade?

Entregar tão rico acervo a um sujeito tão enroscado com a lei, com tantas comprovações do desapreço que tem pelo que é dos outros, não há de ser uma decisão segura. É o mesmo que brincar com fogo.

Bolsonaro está torturando os brasileiros ao confiar a qualquer um patrimônio tão precioso.

Isso não é nada joiado.

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Um novo tempo, Lula!

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

As imagens dos presidentes brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e chinês, Xi Jinping, caminhando em Pequim diante de uma banda de música executando a composição "Um Novo Tempo", de Ivan Lins e Vitor Martins, ganharam o mundo. Têm representação única, afinal.

Primeiro, pela afinação democrática que a música guarda: foi escrita e gravada no resgate social do Brasil, quando o País saía de sob a ditadura civil-militar imposta em 1964 e tentava respirar esperança. Independentemente do juízo que um outro crítico faça, Ivan e Vitor entregaram ao público títulos importantes sobre o tema e para a época.

Depois, pela retomada dos diálogos entre as duas nações, que haviam sido estupidamente inviabilizados por um bando alucinado. Mal-intencionados criaram criminosas ficções racistas contra a China e as capacidades econômica e científica de lá. Tentaram controlar o Brasil com notícias falsas e provocações antidiplomáticas. Ameaçaram os cidadãos. Fizeram terrorismo descaradamente. Frustraram-se, mas deixaram sequelas.

É correto acrescentar outro elemento: o do reposicionamento do protagonismo político de Lula, que havia descido ao inferno da impopularidade, empurrado ladeira abaixo pelo lawfare lavajatista, e se reergueu com a vitória nas urnas de 2022.

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É certo também avaliar que os chineses podem não ter entendido o que significa "Um Novo Tempo". É compreensível, claro: a música não passa nem perto do cotidiano local. A sugestão do repertório certamente partiu do estafe de Lula e foi endereçada aos brasileiros todos.

A mensagem está muito próxima, sim, da nossa realidade.

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Respeitada a memória dos nossos 700 mil mortos na pandemia da covid-19, explicado (nunca justificado!) o esquartejamento da Petrobras e o sufocamento das empresas brasileiras que operavam no mercado internacional, esclarecido o enfraquecimento planejado e deletério de patrimônios indispensáveis, como o Banco do Brasil e os Correios, é fato que vivemos mesmo um novo tempo.

O fato é que o Brasil, entre alegre, aliviado e apreensivo, tem se livrado das piores armadilhas e se recolocado no caminho da Democracia, da liberdade, do respeito. Isso dá trabalho, admitamos. Fazer uma faxina moral no lixo que nos foi deixado não há de ser tarefa simples nem rápida, mas é algo que se deve encarar com disposição e ânimo. Diferentemente do que desejava o então ministro bolsonarista Paulo Guedes, o governo passado não conseguiu "enfiar uma granada" no nosso bolso.

A composição de Ivan Lins e Vitor Martins tem, além do expressivo título, um verso que não nos deixa esquecer que (e porque) precisamos resistir: "estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos".

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Bolsonaro avisa ao "gado": cada um que se vire como puder

Artigo do jornalista Roberto Maciel

Nos dias após perder a eleição e depois de fugir para os Estados Unidos, antes mesmo de terminar o patético, violento e psicótico mandato que tinha, o ex-presidente Jair Bolsonaro levou alguns seguidores fanatizamos a se especializarem em "decifrar" sinais de que estava armando algum jogo sujo.

O jornal O Globo publicou o seguinte:

https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2022/noticia/2022/11/os-sinais-ocultos-no-curto-discurso-de-bolsonaro-ao-quebrar-o-silencio-sobre-o-resultado-da-eleicao.ghtml

O site Metrópoles saiu com essa matéria:

https://www.metropoles.com/colunas/paulo-cappelli/os-3-sinais-de-bolsonaro-que-mantem-aliados-a-espera-de-ultimo-ato

Uma das mais amalucadas interpretações dos apoiadores de Bolsonaro está exposta nesse texto veiculado pelo jornal O Estado de Minas:

https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2023/01/05/interna_politica,1441118/bolsonaro-publica-video-em-supermercado-e-apoiadores-acham-que-e-um-sinal.shtml

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Jair Bolsonaro pode ter emitido ontem, em depoimento à Polícia Federal sobre o planejamento e o incentivo que deu ao golpe de 8 de janeiro, mais um sinal. Dessa vez, pra lá de eloquente ao grupo que ele mesmo e os filhos já definiram como "gado".

Ao dizer que estava drogado aos policiais que o interrogaram - sob efeito de morfina - quando postou em redes sociais um criminoso estímulo à bandalheira que destruiu as sedes dos três poderes, em Brasília, o ex-presidente avisou em tom muito nítido aos aliados que vai se fazer de doido para melhor passar e que cada um, sobretudo os que estão sob a mira da Justiça, que se vire como puder para se desenrolar com a lei.

Em resumo, foi isso: "eu estou cuidando do que é meu - já dei a minha desculpa - e vocês que se lasquem!"

Ligeiro como quem furta.

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1º.5.2023

Thiago Brennand e Jair Bolsonaro: dois não-trabalhadores empestam a pauta no Dia do Trabalho

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Neste Dia do Trabalhador, dois não-trabalhadores estão tendo largos espaços no noticiário: o empresário Thiago Brennand, extraditado para o Brasil dos Emirados Árabes, para onde havia fugido em setembro passado, acusado de crimes sexuais e outros abusos; e o ex-militar Jair Bolsonaro, que em dezembro havia fugido para os Estados Unidos e é apontado, com fatos e falas eloquentes, como autor intelectual do golpe de Estado em 8 de janeiro, frustrado pelas forças da Democracia.

O primeiro está enjaulado no Centro de Detenção Provisória I de Pinheiros, em São Paulo, para onde foi levado em seguida aos primeiros procedimentos policiais no Brasil após o desembarque. Está cercado de pessoas que lhe dão atenção – agentes de segurança das polícias e carcereiros. Leva nas costas o peso de oito acusações de violências.

O segundo está à solta. Enquanto Brennand era submetido à Justiça, Bolsonaro participava em Ribeirão Preto (também em São Paulo) da abertura de uma feira agropecuária. Mostrava gozar de impunidade invejável. Sorria com os aplausos que recebia, passeando no meio do gado. Leva nas costas o peso de, ao menos, 700 mil mortes causadas pela covid-19.

Thiago Brennand e Jair Bolsonaro têm muitos pontos em comum. Destacam-se, entre esses, o desapreço à lei e às mulheres. Brennand, conforme as denúncias e imagens exibidas à exaustão na TV, apela para a força bruta. Bolsonaro usa das palavras, pelo menos é o que se sabe até agora, para atacar e oprimir movimentos feministas e igualitários.

Também nunca tiveram a carteira de trabalho assinada por quem quer que seja: Brennand é herdeiro, Bolsonaro e a família estão há décadas pendurados em salários que o serviço público paga mesmo para quem não presta serviço a ninguém.

Ambos estão sintonizados, ainda, na mesma frequência política. E reclamam dos direitos humanos, mostram-se racistas e são abertamente armamentistas. Ambos são, se pudor nem freio, adeptos da ameaça como estratégia de poder.

Brennand ostenta riqueza e não deixa de usar joias e adereços de ouro. Bolsonaro está envolvido até o pescoço em tentativas de desviar joias do patrimônio público.

Mas Thiago Brennand, diferentemente de Bolsonaro, tem gerado uma reação antipática muito peculiar: empresários não querem que seja identificado como um deles em matérias jornalísticas. E têm pressionado a imprensa para que execute essaa exclusão. Curiosamente, ninguém se queixava até as denúncias começarem a pipocar; agora, questiona-se se Brennand é mesmo "empresário" ou apenas "herdeiro".

Bolsonaro, em oposto, é abraçado, lambido e ovacionado por empresários – alguns dos quais confessos apoiadores dos atos de terrorismo de 8 de janeiro.

Há, como se nota, uma clara desigualdade nos tratamentos recebidos pelo abusador do mulheres e pelo abusador da Democracia. Como combater as desigualdades é princípio do Estado Democrático de Direito, que se busque remover mais essa do caminho dos cidadãos.

Sobre isso, o ministro da Justiça, Flávio Dino, usou uma imagem rica no discurso de posse: "cada um precisa de um Everest existencial para galgá-lo".

O Brasil tem muitos.


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Se existem regras até para briga de meninos, por que não para big techs que permitem dedo no olho e que xinguem a mãe?

O convívio social impõe regras. Há normas para tudo: esportes, lazer, política, relacionamento familiar, religião e, sem exagero, até para briga de meninos:

  • Não vale dedo no olho!
  • Não pode xingar a mãe!
  • Não vale cuspir!

Uma das mais importantes conquistas humanas, responsável por todas as outras ao longo de uma História admirável, foi a capacidade de comunicação e a de convivência plural.

Isso posto, temos nos deparado nos dias mais recentes com a renitente e deletéria ação de grandes empresas de tecnologia (as ditas "big techs") de tentar boicotar no Brasil a definição de regras, tendo nesse empreendimento o apoio despudorado de representantes – alguns expressivos, outros muito próximos do nada – de alas conservadoras da política e da religião.

Todos, invariavelmente, defendem o direito que julgam ter de espalhar notícias falsas, disseminar violência, produzir terrorismo e compartilhar preconceitos raciais, de gênero e de idade, entre outras mazelas de caráter.

Na verdade, há uma cortina de fumaça que se tenta por entre a opinião pública e os fatos e as intenções. A campanha contra a regulamentação das redes sociais é, sim, um esforço gigantesco para tentar preservar os lucros enormes – trilionários, conforme estimativas de analistas – que cevam as corporações e seus satélites.

Matéria publicada em fevereiro pela CNN Brasil mostra apenas a ponta do iceberg de dinheiro que estimula as estratégias manipuladoras:

Um levantamento feito pela plataforma de investimentos TradeMap mostrou que, em 2023, as Big Techs cresceram o equivalente a 1,37 vez o valor de mercado de todas as empresas listadas na B3, a bolsa brasileira.

O valor de mercado de Apple, Amazon, Meta, Microsoft e Alphabet no final de 2022 era de US$ 6,17 trilhões contra US$ 7,28 trilhões no dia 3 de fevereiro de 2023 o que representa crescimento de US$ 1,11 trilhão no ano de 2023.

Para demonstrar a amplitude do crescimento, a pesquisa aponta que todas as empresas listadas na B3 valem US$ 810 bilhões.

Enquanto o evangélico anônimo e pobre ora fervorosamente e pede a Deus castigo para os "comunistas ateus" que, segundo disse o pastor, querem impedir que a "palavra" seja levada a todos os recantos, alguém enche as burras de dinheiro.

Enquanto o amalucado bolsonarista berra que querem cassar sua liberdade, alguém faz farra e compra votos às custas da ignorância alheia.

Enquanto a tia idosa resmunga porque tentam cortar a manifestação "política" dela nos grupos de WhatsApp, alguém articula golpes de estado, tenta roubar joias e falsifica dados públicos.

E as big techs seguem, manejando verdades e lucrando com a falta de lei.

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O bolsonarismo não tem vergonha, inclusive, de abandonar soldados feridos no campo de batalha

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Existe uma frase no meio militar, ou nas cercanias, que soa como axioma: "Não se abandona um soldado ferido". Há variações: "Não se abandona soldado ferido no campo de batalha", "Não se abandona soldado no campo de batalha", "Não se abandona soldado no caminho", "Não se abandona soldado na estrada", "Soldado jamais abandona outro soldado" – enfim, uma rápida pesquisa pode abastecer o curioso com incomum diversidade.

Mas não se quer aqui discutir a estética da fala. Busca-se, sim, observar a ética do ato.

E perguntar: por que Jair Bolsonaro, acólitos e demais seguidores abandonam com tanta facilidade os "soldados" no campo de batalha? É uma decisão tão simples?

Já repararam, leitora e leitor, como são fluidas ou gasosas as relações de integração nesse ambiente? Já notaram que o que torna Olavo de Carvalho, Sara Winter, Oswaldo Eustáquio, Adriano da Nóbrega, Ronnie Lessa, Daniel Silveira, William Waack, Augusto Nunes, Adrilles Jorge, Roberto Jefferson, Allan dos Santos, Wellington Macedo, Alan Diego dos Santos e George Washington de Oliveira Sousa e Eduardo Fauzi, entre outros, é o fato de terem sido solenemente abandonados pelo líder? Já se leu ou ouviu palavra sequer de Bolsonaro, dos filhos e de personagens do gênero em defesa de um desses nomes? A esses se somam os que estão sendo tornado réus pelo Supremo Tribunal Federal pela fieira de crimes cometidos em nome do "mito".

Essa é a sina que persegue aqueles que, descartáveis, perdem bênçãos, privilégios e graças do grupo.

Mauro Cid, tenente-coronel e cúmplice, também tem lugar especial. Ailton Barros, militar expulso do Exército por delitos vários, também cupincha, aparece na lista com registro em destaque.

Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário da Segurança do DF, enjaulado por ter ajudado na execução do terrorismo e do golpe de 8 de janeiro, figura agora no topo de lista dos excluídos.

Sobre esse último, merece leitura texto do jornalista Lauro Jardim no jornal O Globo:

"O cerco sobre Anderson Torres está prestes a ganhar novos ingredientes. Preso há quase cinco meses, Anderson sofrerá, em sequência, mais duas revezas de peso.
O primeiro deles, será sentido no bolso. A Polícia Federal abriu um processo administrativo que resultará no corte do salário que o ex-ministro da Justiça ainda recebe. Sua remuneração como delegado da PF é de cerca de R$ 30 mil.
Num segundo momento, o lance mais radical: Anderson será expulso da corporação".

Há apenas três casos de soldados abandonados que se reintegraram ao meio bolsonarista: Sérgio Moro, que havia sido enxotado do ninho mas conseguiu voltar porque faltou-lhe vergonha na cara e sobraram-lhe votos na eleição de 2022, conquistando vaga no Senado, onde diariamente passa vexame; Zé Trovão, que resistiu o quanto pode e também se tornou parlamentar; e Carla Zambelli, deputada reeleita que não encontrou para onde ir e achou mais confortável permanecer sendo humilhada e ignorada pelos bolsonaros.

O fato é que ética – conjunto de normas que não pode ser reescrito, embora possa e deva ser aprimorado sistematicamente – nunca foi o forte de Bolsonaro. Estética, então, nem se fala.

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Oitenta anos da CLT: o momento não é só de festejar data, mas de reforçar a resistência e a luta por direitos

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

A Assembleia Legislativa do Ceará abre as atividades desta semana realizando hoje (8.5), a partir das 14h, sessão alusiva aos 80 anos de criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A solenidade foi proposta pela deputada Jô Farias (PT). Ok, não se deve deixar de saudar a História – considerando que a CLT é um pilar que garante direitos dos trabalhadores brasileiros, nada poderia ser tão adequado.

Diz Jô Farias no texto de justificativa do requerimento: "Em 80 anos de existência, a lei permitiu que milhares de empregados tivessem seus direitos garantidos, bem como fossem tratados com dignidade durante a vigência do contrato de trabalho e após o término deste".

Mas depois?

A CLT é, pelo caráter protetivo que tem, alvo de constantes ataques de agentes do capitalismo predatório – aquele que, contrariamente às conquistas dos trabalhadores, investe esforços e poderes para se cevar enquanto deixa minguando as bases e a organização dos empregados. A reforma trabalhista imposta pelo governo ilegítimo de Michel Temer (2016-2018), fruto de golpe político, é exemplo disso. O esvaziamento dos sindicatos a partir de regras que vêm sendo reescritas sem participação popular, desde a temporada tucana no governo, reforçadas na gestão de Jair Bolsonaro (2019-2022), torna mais nítida a ofensiva contra direitos dos trabalhadores.

Situações calamitosas como a dita "uberização da economia" – com trabalhadores sem aposentadoria, sem licença, sem férias, sem acesso à saúde, tornados pessoas jurídicas – mostram com clareza o tamanho da fossa em que se podem jogar perspectivas, necessidades e dignidade. Trocam-se os lucros enormes de empresas pelo sacrifício e a exploração da mão-de-obra.

Não se trata de discorrer aqui, mesmo que de modo raso, sobre a complexidade ou o desequilíbrio nas relações entre capital e trabalho. Há uma vasta bibliografia tratando do tema com profundidade e esta se encontra disponível inclusive na Internet. É acessível e recomendamos leitura aos que têm curiosidade sobre o assunto. O que se observa é a necessidade de articulações para o apoio de partidos, instituições, entidades sociais e do cidadão, organizado ou não, ao restabelecimento de condições para que a lei, agora octogenária, ganhe respeito e vitalidade.

Assim como a CLT, os descumpridores das leis mais básicas de convivência e de respeito a direitos também estão completando mais uma década de atuação.

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Rita Lee e o câncer "Jair"


Artigo do jornalista Roberto Maciel

Morreu ontem (8.5, segunda-feira) a cantora e compositora Rita Lee. Artista surgida na cena musical brasileira nos anos 1960, integrando o grupo Os Mutantes, ela participa de forma muito viva da memória afetiva de seguidas gerações. Avós, filhos e netos têm, em comum, recordações embaladas pela voz de Rita. Foram quase seis décadas de proximidade - uma intimidade que fazia os fãs a chamarem ora de rainha, ora de tia.

A morte não pegou ninguém de surpresa. As condições de saúde de Rita, bastante fragilizadas por um câncer agressivo - o qual ela tratou de batizar de "Jair", com respeitável sarcasmo - e o tratamento sacrificante haviam sido tornadas públicas pela família havia meses. Rita Lee cumpre, nessa passagem, o destino de se alinhar numa constelação que já reúne nomes como Elizeth Cardoso, Araci de Almeida, Dalva de Oliveira, Maysa, Elis Regina e Gal Costa.  

É importante, sim, que se abordem as qualidades musicais de Rita Lee. Tanto nos Mutantes, quanto no Fruto Proibido, banda que formou ao se lançar na carreira solo, e com o marido, o arranjador, multiinstrumentista a parceiro Roberto de Carvalho, que contribuiu decisivamente para dar personalidade à produção da cantora a partir dos anos 1980.

Mas é necessário que se indiquem também as virtudes políticas dela. Comecemos pela significativa ironia ao câncer que a abateu - nada mais significativo, aliás. Um puxa-saco contumaz de Bolsonaro, o empresário catarinense Luciano Hang, tentou mordê-la, mas foi em vão: "Aos 74 anos continua a dar maus exemplos para os brasileiros. Triste fim", disse o "Véio da Havan", mostrando-se mais grosseiro do que pertinente.

Sobre gente e posturas assim, ela tinha falado: "É assustador ver gente no comando com mente tão ultrapassada. Me enche o saco o racismo, a misoginia, a homofobia. Não tenho paciência para isso".

Também se atribuiu a ela uma postagem sarcástica ao extremo sobre o ex-presidente: "Bolsonaro e eu tivemos um caso. Ele ñ era mto chegado na coisa, se é q me entendem. Terminamos pq Bolsinho tava d olho num colega d classe".

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Rita Lee e o fascismo à brasileira não poderiam mesmo conviver. As oposições eram intransponíveis. Afinal, ela foi a maior vítima da censura oficial com que a ditadura militar (1964-1985) impôs ignorância, preconceito e obscurantismo ao País. O fascimo tentou calá-la e até a prendeu, mas não lhe tirou a verve, a sonoridade e a criatividade.

Falando ao jornal "O Estado de S.Paulo" em 2018, Rita explicou não ter freios: "Nunca pensei que o que fiz durante 50 anos fosse o que se chama feminismo: eu ligava o foda-se e entrava decidida no mundinho considerado masculino, cantando sobre o que me desse na telha; de menstruação a menopausa, de trepada a orgasmo. Fora o resto". 

Não pensou, mas era.


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Rita Lee cuidou, ela mesmo, de uma vez dizer o que quer ter escrito na lápide: "Meu epitáfio será: Nunca foi um bom exemplo, mas era gente fina".

Era gente fina mesmo, a admiração que conquistou assim confirma. Só foi cruel com o câncer, mas com justa causa.

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Sexta-feira, 12.5

Mauro Cid: sem costas largas nem o couro grosso, resta-lhe a delação premiada

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

O tenente-coronel Mauro Cid conhece muito bem a estreiteza das próprias costas, assim como sabe o quão fina é a pele que lhe cobre as carnes.

Ou, em bom Português: sabe que não tem as costas largas nem o couro grosso.

Militar acostumado aos gabinetes, nunca ao campo - "Selva!", como dizem os tarados do milicanismo fascista -, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro entende com clareza absoluta tudo o que fez em proveito próprio e do chefe, tudo o que se descobriu e tudo o que se pode descobrir dele.

Mauro Cid não é acadêmico, intelectual da caserna ou líder fardado. E, além da trunfinha de cabelo na testa, não tem nada de bestalhão.

Sobre isso, vale reproduzir o que escreveu o jornalista Reinaldo Azevedo no portal UOL:

"O advogado Rodrigo Roca, próximo da família Bolsonaro, deixou a defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Ele teve a prisão preventiva decretada, no dia 3, pelo ministro Alexandre de Moraes no âmbito da investigação da inserção de dados falsos sobre vacinas em cadastro oficial do Ministério da Saúde. Em seu lugar, assume o caso o criminalista Bernardo Fenelon, que atua em delações premiadas e tem até um livro a respeito: 'A Delação Premiada Unilateral'".

Mais: "os bolsonaristas já deixaram vazar que esperam que Cid assuma a responsabilidade e ponto. O coronel está sendo monitorado de perto pelo entorno do ex-presidente. Porque se teme justamente uma delação premiada. Convém lembrar que o militar também é investigado pelo STF por vazamento de inquérito sigiloso sobre ataque hacker ao TSE e, recentemente, no caso das joias sauditas. Foi ele quem assinou um pedido, com urgência, de avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para que o sargento Jairo Moreira da Silva se deslocasse para São Paulo, três dias antes do fim do mandato de Bolsonaro, para tentar resgatar ilegalmente as joias apreendidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos".

Concluindo: "Vejam que coisa: o homem era considerado um militar exemplar, que se formou com méritos na Aman. Em 2018, estava prestes a viajar profissionalmente para os EUA. Em vez disso, assumiu a função de ajudante de ordens. E aí as coisas, para ele, entraram em desalinho. Obviamente não foi forçado a nada. Era um oficial graduado do Exército. Estava longe de ser um pau-mandado inexperiente. De toda sorte, jamais se subestime a capacidade que tem Bolsonaro de piorar os que convivem com ele".

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Sabe que cada crime que assumir, sendo ele ou não o responsável, o planejador ou o executor, pesará decisivamente numa decisão da Justiça. A não ser - e é aí que entra a hipótese - que negocie com os acusadores soluções que possam lhe atenuar as punições e a vergonha (ou que, nos quarteis sérios, corresponde a uma vida de exclusão e humilhações).

E há um agravante: juiz nenhum há de se convencer de que foi ele, acumpliciado de algum outro cortesão do poder de então, quem teve a iniciativa de fraudar, tentar empalmar joias e de pressionar servidores a se tornarem delinquentes.

Cid só tem uma saída: delatar. Nessa situação, quem se incomoda com honra?

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Domingo, 15.5

Dino na cova da linguagem podre do bolsonarismo 

Artigo do jornalista Felipe Araújo sobre o desempenho do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, na cena política e nas repetitivas e cansativas audiências para as quais é convidado por deputados e senadores bolsonaristas:

Flávio Dino está dando uma contribuição absolutamente importante para o (que resta de) ambiente democrático no Brasil. E não apenas com suas tiradas irônicas e seu sarcasmo elegante frente à demência e à má fé dos prepostos bolsonaristas no Congresso Nacional.

Ao resgatar uma semântica da serenidade e da articulação argumentativa que parecia ter se perdido durante o tsunami fascista do (des)governo Bolsonaro, o ministro de Lula nos coloca novamente diante da possibilidade de um debate público sedimentado em padrões elementares de civilidade e seriedade, onde o que mais pesa é a qualidade do argumento e sua concatenação com a realidade – e não as agressões, as molecagens e os desvarios, expedientes típicos da tropa bolsonarista.

As geniais performances de Flávio Dino não vão, é claro, influir sobre o eleitorado da extema-direita, já completamente seqüestrado por uma agenda discursiva moldada pelo reacionarismo, pela vilania e pela mentira. Mas pode influir, quem sabe, sobre camadas importantes do eleitorado, inclusive setores de centro-direita e mesmo de direita que hoje se vêem constrangidos pelo empoderamento de figuras abomináveis e precárias como André Fernandes, Eduardo Girão, Marcos do Val e outras aberrações autoritárias. A ver.

De toda forma, é alentador saber que está em curso o resgate da crença em uma certa semântica democrática, abrindo frestas num grande paredão fascista que começou a ser erguido em 2016 e que parecia inquebrantável. "Dotadas de conteúdo próprio, as crenças alimentam-se de sua capacidade prática de fixar hábitos, para o que não prescindem do uso da linguagem, que tanto descreve quanto prescreve modos de agir", ensina o professor Renato Lessa em ótimo ensaio na revista Piauí ("A destruição", edição de julho de 2021). E foi esse justamente o maior e mais grave legado deixado por Bolsonaro: a podridão da linguagem, entendida aqui como motor de hábitos e ações igualmente deletérios.

"(A palavra podre) se faz protótipo de novos hábitos, quando não do hábito de destruir hábitos. É pela palavra que a coisa – a destruição – vem. O sujeito que emite a palavra podre, mais do que algoz da gramática, é inimigo da semântica e da forma de vida a ela associada", situa Renato Lessa.

Por isso, a base bolsonarista no Congresso e nas redes anda tão irascível com Dino. O contraponto que o ministro faz ao fascismo não é apenas da ordem do humor e do escárnio (ferramentas também muito importantes no combate ao ódio e à estupidez). Mas é também um manifesto difuso pelo resgate da civilidade, da inteligência e da política em sua melhor acepção - coisas que os bolsonaristas não suportam.

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31.5

No inferno de Deltan queima um diploma conseguido com dinheiro público

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Cassado por ser um fraudador da lei, o (ainda) deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR) se notabilizou como o procurador que chefiou, embora prestando contas ao ex-juiz Sérgio Moro e ao FBI, a "Operação Lava Jato", celebrizada pela fieira de irregularidades que comenteu e por ter imposto ao Brasil prejuízos financeiros e econômicos dos mais profundos.

Entrou para a História e depois saiu da forma mais humilhante: acusado de fazer o que acusava os outros de fazerem.

Deltan, certo de que seria punido pelo Conselho Nacional do Ministério Público e pela Justiça (e, possivelmente, pela Polícia), pediu demissão do cargo que ocupava antes de ser exarada uma sentença condenatória. Bandeou-se para a política tradicional, convencional, a qual negava e satinizava, filiando-se a um partido de extrema-direita e conquistando um mandato de deputado federal pelo reacionário estado do Paraná.

A tramoia não deu certo. O Tribunal Superior Eleitoral o catou e o cassou. Ponto para a Justiça, ponto para a Democracia.

Saiba, então: Deltan Dallagnol galgou os degraus acadêmicos, formando-se em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Ou seja, teve os estudos bancados pelos contribuintes. Mas o dinheiro que o povo brasileiro empatou, em vez de sustentar a qualificação moral, ética e intelectual, serviu para constituir um mistificador fanático - um pseudo-religioso fundamentado sobre interpretações distorcidas.

Veja declaração dele no Programa Roda Viva - defendendo que mulheres sejam subjugadas pelos maridos:

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Deltan Dallagnol carrega para o inferno da exclusão prêmios relevantes: Global Investigations Review, Prêmio República

Boas Práticas de Gestão da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), Prêmio Anticorrupção (Transparência Internacional), Innovare e International Association of Prosecutors.

Dadas as circunstâncias em que está sendo expulso da vida pública, deveria ser cobrado a devolvê-los.

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2.6

Se Lula continuar desse jeito, Moro não vai saber onde enfiar tantos asteriscos

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

A frase foi proferida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos bastidores de uma entrevista dada a jornalistas do site Brasil 247, em março passado. Não era uma sentença ou uma ameaça, mas a expressão de um sentimento negativo, embora de reciprocidade, vivido meses antes: "Só vou ficar bem quando eu f*der com o Moro".

Havia ali uma lembrança amarga, a do cárcere.

Lula passou mais de 580 dias preso após uma série de armações jurídicas - já comprovadas - entre o então juiz Sérgio Moro e procuradores da República no Paraná, que o impediram de se candidatar nas eleições de 2018 e pavimentaram o caminho de Jair Bolsonaro até o Planalto.

A declaração completa é essa: "De vez em quando um procurador entravam lá dia de sábado, ou dia de semana, para visitar, perguntar se estava tudo bem. Entravam três ou quatro procuradores e perguntavam 'tá tudo bem?'. Eu falava 'não está tudo bem... Só vai estar bem quando eu foder esse Moro'" - com uma recomendação aos entrevistadores: "Vocês cortam a palavra 'f*der' aí…"

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No sentido figurado, Lula já "f*deu" Sérgio Moro repetidamente nos últimos mesess. Talvez Moro até reclame de que não aguenta mais.

Primeiro, quando, por meio da banca de advogados que o defendeu e defende da perseguição jurídica empreendida pelo então juiz e os procuradores, provou em diferentes instâncias do Judiciário brasileiro que é inocente e que não lhe cabem as acusações feitas.

Depois, quando teve restabelecidos seus direitos políticos e se elegeu presidente da República pela terceira vez.

Em seguida, quando conseguiu humilhar Sérgio Moro e acólitos no Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas. O órgão da ONU concluium em abril último que o ex-juiz foi parcial no julgamento dos processos na "lava jato".

Outra parte significativa do "troco" tem sido dada por aliados de Lula, que diariamente lembram a Moro no Senado que eram só fantasia de papel e maquiagem barata a ética e a sisudez o que o ex-juiz ostentava quando se pronunciava, em geral sem contraponto, sobre lei e ordem. Lembram todo dia que Moro dizia que atacava a corrupção quando, na verdade, corrompia a verdade e as consciências dos cidadãos.

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Sexta-feira passada, Lula "f*deu" Sérgio Moro mais uma vez, e com alguma ironia. Anunciou que indicará o advogado Cristiano Zanin, chefe da banca que o acudiu, à uma vaga no Supremo Tribunal Federal.

E aqui está a ironia: Zanin foi, ninguém mais ninguém menos, o carrasco de Sérgio Moro. Foi quem desmascarou seguidas vezes o então juiz, foi quem o questionou e o constrangeu publicamente. Foi Zanin quem mostrou para leigos e operadores da justiça que Moro não era o que dizia ser e que chefiava um conluio com objetivos muito claros: dinheiro e poder.

É Zanin quem vai ser ministro do STF, cargo ambicionado por Sérgio Moro.

Sérgio Moro, com a esposa e o procurador-chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol, até que se refugiaram no Congresso, escondidos atrás de mandatos - uma manobra que, conforme o fim da aventura política de Deltan já mostra, não é garantia de impunidade.

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O anúncio do nome de Cristiano Zanin é não apenas o reconhecimento a um advogado e jurista competente, mas uma prova de que Sérgio Moro continua com sua saga.

É f*da!

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18.6.23 - DOMINGO

Roberto Jefferson, Daniel Silveira, Mauro Cid, Monark, coronel Lawand, Marcos do Val, "Vovó do Cocô" e os donos dos ônibus apreendidos no 8.1 - o que esses personagens têm em comum?

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

O título acima é propositalmente longo. Busca mostrar o quão longa, maçante e diversa é a fauna engajada por Jair Bolsonaro e pelo bolsonarismo na gana pelo poder e por dinheiro, na aplicação de um golpe de estado que fracassou e no lodo da rejeição. O quanto é extensa a massa do gado ideológico tangida por uma milícia que mira na cabeça da Democracia.

Todos estão se vendo com a obrigação de enfrentar a Justiça e a História, prejuízos que, supomos, foram subestimados pelas figuras citadas e por muitas outras. Mais ainda: estão sendo desprezados pelos motivadores do xilindró e dos demais dissabores que encaram: o ex-presidente que sonhava com uma republiqueta, os filhos dele e demais aliados (ou cúmplices, se a leitora e o leitor assim preferirem).

Jefferson, Silveira e Cid estão vendo o sol nascer quadrado sem que nenhum patrocinador do golpe diga uma palavra ou mobilize um estagiário de Direito sequer para defendê-los. O influenciador-defensor do nazismo Monark (Bruno Aiub, na ficha e no RG), coronel Jean Lawand, senador Marcos do Val (Podemos-ES) estão correndo o risco de amargar cadeia. A famigerada "Vovó do Cocô" (Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza, na folha corrida), uma traficante-idosa do estado do Espírito Santo que sujou de fezes o gabinete do ministro Alexandre de Moraes, no STF, ostenta na canela uma lustrosa tornozeira eletrônica.

De quebra, em recolhimento domiciliar, encontra-se o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, que se fez de surdo, cego e mudo para permitir que o terrorismo dos criminosos de verde-amarelo tomasse conta da Capital federal.

E os donos de ônibus? Esses estão tendo de pagar despesas de cerca de R$ 20 mil pela guarda dos veículos recolhidos no 8.1.

Sabe quem apareceu para fazer vaquinha solidária, para ajudá-los a bancar as despesas, para oferecer apoio financeiro a eles? Não foi nenhum dono de rede de lojas de importados da China nem nenhum dono de cadeia de restaurantes. Não foi nenhum agroboy. Não foi nenhum chefe de corporação da mídia direitista. Não foi nenhum desmatador ou grileiro. Niguém que seja dono de joia saudita se coçou para ajudá-los.

Sendo bem preciso: não foi ninguém. Nem vai.

O destino dos bolsonaristas é esse: o desprezo e o abandono, o esquecimento e a privação de liberdade.

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E o Capitão Wagner, hein? Não deu as caras no julgamento dos assassinos da Chacina do Curió

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

A jornalista Inês Aparecida usou as redes sociais neste domingo (25.6) para chamar atenção para um fato curioso.

Escreveu ela:

"Uma ausência notada durante o julgamento dos réus da Chacina do Curió: Capitão Wagner. Aguerrido defensor dos PMs na época do crime, não abriu a boca pra dar um pio. Um pronunciamento dele na tribuna da Assembleia (ele era deputado estadual) mais parece (de) advogado de defesa".

A lógica política impõe a Wagner, assim como está impondo a Jair Bolsonaro, o abandono de aliados no campo de batalha - o abandono covarde, pode-se afirmar. Bolsonaro não move uma palha, nem em solidariedade às famílias dos terroristas envolvidos no 8.1, pelos que estão encarcerados à espera de julgamento.

Enquanto se cala pelos companheiros alcançados pela Justiça, o que não fazia quando era deputado, o atual secretário de Saúde do município de Maracanaú aparece em propagandas do partido União Brasil, todo simpático e sorridente, atacando adversários políticos. É, de fato, um "valente", um "guerreiro", um "camarada para as horas mais difíceis". Ora se não é!

Não há inocentes no banco dos réus do sangrento massacre registrado no Bairro do Curió, em Fortaleza, há oito anos. O Capitão Wagner, como outros profissionais de segurança pública que envereadaram pela política, como o ex-soldado Noélio Oliveira (ex-vereador e ex-deputado estadual), o ex-delegado Francisco Cavalcante (ex-deputado estadual) e o ex-sargentos dos Bombeiros Reginauro Souza (atual deputado estadual) sumiram de cena. Não emitiram uma nota sequer em apoio aos ex-colegas, os quais defendiam com ardor, e desapareceram dos espaços parlamentares e das mídias sociais.

Nenhum achou que seria conveniente ou inteligente associar imagem a chacineiros condenados a 1.103 anos e oito meses de cadeira.

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O PSDB quer voar de novo e pode, enfim, descobrir que existe a lei da gravidade

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Representado por um tucano sorridente, o PSDB tem alguns marcos referenciais nos calendários políticos do Ceará e do Brasil. Localmente, o primeiro desses marcos remete ao ano de 1990, quando o então governador do Estado, Tasso Jereissati, largou do PMDB - pelo qual havia sido eleito em 1986, rebocado pelo sucesso do Plano Real, e abriu um horizonte de êxitos eleitorais e hegemonia no Palácio da Abolição, na Assembleia Legislativa e nas prefeituras. O PSDB, no auge do poder, chegou a dominar mais de 80% das gestões municipais.

O segundo foi em 2006, quando o então governador Lúcio Alcântara (no PR) encerrou o mandato levando nas urnas uma sova do ex-prefeito de Sobral, ex-tucano como ele, Cid Gomes (no PSB).

Da eleição de Tasso, um desconhecido da política, à derrota de Lúcio, muito conhecido, inclusive por trocar de partido como quem troca de camisa, consumiram-se os 20 anos de controle previstos pelos teóricos da social-democracia. O PSDB conseguiu, até então, eleger Tasso, Ciro Gomes e o próprio Lúcio, o único governador do Ceará que não se reelegeu após o instituto do direito ao segundo mandato consecutivo no Executivo.

Depois disso, a sigla se tornou uma espécie de zumbi político, deambulando à sombra de outros nomes e sem expressão nenhuma.

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No plano nacional, destacam-se, claro, as eleições de Fernando Henrique Cardoso para o Palácio do Planalto e o domínio de extrema relevância exercido pela legenda em São Paulo e Minas Gerais.

No oposto das vitórias estão as derrotas de José Serra e Geraldo Alckmin para Lula (2002 e 2006) e a de Aécio Neves para Dilma Rousseff (2010), na qual escancarou-se o jogo sujo dos tucanos e a verve golpista que entregou a Democracia brasileira a figuras como Eduardo Cunha, Sérgio Moro e Jair Bolsonaro.

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O PSDB tenta agora se reerguer no Ceará. Conseguiu atrair para suas magras fileiras o vice-prefeito de Fortaleza, Élcio Batista, e foi bem sucedido em eleger para a Assembleia a deputada Emília Pessoa. Élcio é sociólogo, professor universitário e foi integrante da elite do governo de Camilo Santana (PT). Depois, guinou para o PSB, se aproximou dos pedetistas e rumou para a social-democracia. É bom formulador e conhece opções de gestão com qualidade.

São os dois nomes com os quais o partido conta para promover debates e conseguir, de algum modo, aparecer na cena política. Os únicos. Não há, deve-se anotar, menção nenhuma a retomar a força que já teve - uma omissão conveniente e condizente com o estado debilitado de quem está pisando nos primeiros degraus do cadafalso. Cita-se somente pela manutenção das "mudanças" que já não há mais.

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Pois o PSDB realiza hoje, sob o lema "nem 8 nem 80: é 45" evento para abrir em Fortaleza as discussões sobre as eleições municipais de 2024. O partido fala em moderação e, numa conta atravessada (o "45" como meio-caminho entre os radicais de um lado e outro), tenta se insinuar para ser considerado como opção eleitoral - um terceiro nome, um "tercius", por assim dizer.

Não há de ser fácil esse esforço de parecer vivo.

Entre os 46 deputados há somente uma tucana, a já lembrada Emília Pessoa; entre os 43 vereadores de Fortaleza, há apenas um - o militante da direita conservadora católica Jorge Pinheiro, afastadíssimo dos movimentos populares e muito chegado ao neopentecostalismo cristão. A reduzida presença nos espaços parlamentares mais importantes do Ceará há de ser um empecilho dos mais altos para que militantes do PSDB possam bater asas outra vez.

E, nesse caso, é mais provável que os tucanos enfim aprendam que existe lei da gravidade, que, com nomes como Lúcio Alcântara e Aécio Neves, os fez desabar, com o peso do fracasso, dos galhos mais altos da frondosa árvore política.

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Bolsonaro não é o único problema: há também os que concordam com ele e que, em 2030, se disporão a votar nele

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Enquanto escrevo este texto, na radiante e esperançosa manhã de 30 de junho de 2023, falta apenas um voto no plenário do Tribunal Superior Eleitoral para que se forme a maioria que tornará inelegível o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Observadores estimam que o posicionamento decisivo será da ministra Cármen Lúcia (STF), resolvendo a demanda que, por ora, está com três votos pela inelegibilidade contra apenas um - o do cearense Raul Araújo, ministro do STJ. A sessão de julgamento será retomada ao meio-dia de hoje..

"Sextou", como dizem memes otimistas e bem-humorados nas redes sociais.

Mas ninguém se iluda com a possibilidade de se liquidar a fatura na conclusão do julgamento. Além de Jair Bolsonaro, estão o que ele representa, as ideias que cultivou e disseminou e, de forma constrangedora para todo o País, aqueles que ele conquistou e que se dipõem a ouvi-lo e a segui-lo.

É fato: a possível inelegibilidade de Jair Bolsonaro não vai afastar os sombrios pensamentos e as práticas excludentes, violentas, discriminatórias, odiosas e odientas de sobre o País. Mais do que isolar Bolsonaro é preciso mostrar o quanto raddioativo e tóxico ele é, o quanto prejudicou o Brasil e os brasileiros (inclusive os mulatos inzoneiros, que foram pesados por ele em arrobas e chamados de preguiçosos, inúteis, improdutivos).

A desbolsonarização do País depende da educação, algo a alcançar das gerações atuais às que virão, em em outra frente da política e da Justiça. Processo sérios e criteriosos, profundos, desegrudados do deslumbre midiático - a chamada "lacração" - podem ser os caminhos mais eficientes para que se esmague a cabeça da serpente do fascismo.

Note-se: o bolsonarismo não começou com Bolsonaro nem vai acabar com a condenação dele a um modesto e suave limbo eleitoral de apenas oito anos.

Bolsonaro não é o único problema: há também os que concordam com ele e que, em 2030, se disporão a votar nele.

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O disputado campeonato brasileiro de escrotos

Artigo do jornalista Roberto Maciel

Antes de propriamente começar o artigo, devo fazer rápidas observações relacionadas ao título acima:

  1. Não rebaixo o nível dos meus textos – ao contrário, trato-os com delicadeza, atenção e desvelo paternal autêntico, embora, humanamente, escorregue ali e acolá na revisão;
  2. Evito expressões chulas, assim como passo ao largo de conjecturas maliciosas, ilações, críticas gratuitas e elogios idem;
  3. Julgo inconveniente, cruel e injusta a relação que muitos fazem (inclusive dicionaristas) entre o importante e vital escroto e o caráter daninho e nocivo de gente que não respeita gente – a dita "escrotagem" ou "escrotice";
  4. Ignoro, e faço questão de reconhecer isso, o porquê de a palavra que designa o "saco musculocutâneo que contém os testículos e os epidídimos" sirva também para designar pessoas ruins;
  5. Não sei o que é "epidídimo" e sugiro aos que também não sabem que, como farei em breve, busquem o significado em fontes confiáveis;
  6. Às vezes, à falta de argumentos e de recursos intelectuais, quedo-me diante das inconveniências e acabo por aderir a elas. É o caso.

Há em curso, desde sabe-Deus-quando, um verdadeiro campeonato nacional de mau-caratismo. Uma competição de má índole para ver quem é mais "escroto". Um ranking de escrotagens, ou escrotices, você decide. Um mundaréu de idiotas se esmera para se destacar entre quem diz a pior asneira ou faz o ataque mais rastejante e sórdido à dignidade alheia.

Falas pilantras (e de pilantras) acusam haver plantações extensivas de maconha em campi universitários, dizem que a terra é plana, defendem a disseminação de armas entre cidadãos comuns, inventam que ianomâmis não são brasileiros, mas venezuelanos. Espalham que africanos não têm capacidade cognitiva e que as escolas são locais de doutrinação de jovens, aplicando uma inexistente "ideologia de gênero".

Pregam o uso de cloroquina para, em lugar de vacinas, combater a covid-19. Debocham de quem morre. Xingam quem tem medo da doença e quem lamenta a morte dos que foram abatidos pelo coronavírus.

Algumas afirmam que crianças tiveram dentes retirados para facilitar sexo oral, enquanto outras insinuam que "pintou um clima" com meninas pobres.

O discurso canalha se estende para fetos sendo usados para adoçar refrigerantes e para a descriminalização do nazismo. Dizem que os terroristas que cometeram a tsunami de violência em 8 de janeiro eram "cidadãos de bem", "patriotas". Garantem que igrejas serão fechadas.

É sério: não há como listar tudo o que se falou de aberrações nos últimos tempos.

A imbecilidade mais recente, creio – não busco a precisão, uma vez que a produção de calhordices é espantosamente dinâmica e ágil -, foi perpetrada por um um deputado federal de São Paulo que mora no Rio de Janeiro. Eduardo Bolsonaro comparou professores a traficantes de drogas. Era esse quem o pai, Jair, que se julgava importante, quis nomear embaixador do Brasil nos Estados Unidos.

Que fique bem claro: Eduardo Bolsonaro chamou professores de traficantes de drogas, não de traficantes de armas – ele sabe muito bem a diferença entre os dois grupos.

A educação, a saúde pública, a vida, a segurança, o emprego e o desenvolvimento social das pessoas, a inclusão dos cidadãos e seu reconhecimento pelo Estado, o respeito coletivo e individual, a garantia de direitos e o acesso à cultura são ofensivos para seres dessa (des)natureza.

Responda-me então, se souber e se puder: o que o útil, inocente e vital escroto tem a ver com o comportamento de pessoas assim?

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O PSDB e o desafio de se recompor e de cumprir o papel que a Democracia lhe reserva

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Nos eventos que o PSDB está realizando em diferentes regiões do Ceará para celebrar os 35 anos de fundação, um momento específico do partido tem passado ao largo das falas e das reflexões do partido e dos militantes.

Trata-se do namoro que os tucanos tiveram - e nem faz muito tempo - com o lado mais sombrio das políticas do País, o bolsonarismo, expressão de molde fascista que só encontra paralelo na história do Brasil em outro ajuntamento de iguais caráter, índole e brutalidade: o integralismo e a ditadura militar imposta em 1964.

É até explicável que a ocasião de festa o exclua: não é um tema fácil de ser abordado e deglutido, posto que é espinhoso, duro e seco.

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Em 2018, o PSDB, estimulado pela presença de fundamentalistas evangélicos entre os filiados, embalado pelas caóticas consequências do impeachment da presidenta Dilma Rousseff e deslumbrado pelo lavajatismo que acabara de colocar na cadeia o hoje presidente Lula, afastando-o da disputa eleitoral daquele ano, escolheu um militar desconhecido para lançar como candidato a governador do Ceará, general Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira.

Imaginavam os tucanos estar "entrando na moda" ao recrutar um bolsonarista-raiz para fortalecê-los no Estado. Acertaram no método, mas erraram no alvo. E erraram feio.

Para completar o diagnóstico atrapalhado, escalaram como candidata ao Senado uma figura por demais conhecida, mas não por virtudes: a pediatra Mayra Pinheiro, que havia presidido o Sindicato dos Médicos e, no cargo, comandou operações de hostilização de profissionais estrangeiros do Programa Mais Médicos, inclusive alvejando-os com gosmentas cusparadas.

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O PSDB se requebra, agora, para soterrar o passado nebuloso e entorpecido, inaugurado pelo então senador Aécio Neves (MG), hoje deputado federal, sujeito que, tão logo perdeu as eleições de 2010 para Dilma tratou de não reconhecer o resultado e de exigir recontagem de votos pelo Tribunal Superior Eleitoral. Quebrou a cara, terminou frustrado pela nova conferência e frustrou o partido e aliados. Mas cuidou de iniciar uma sistemática ação de boicote do Governo, acolhida rapidamente por gente como Roberto Jefferson e Eduardo Cunha.

Os que pregavam o justiçamento dos petistas só iriam se dar por satisfeitos quando, em 2018, Bolsonaro foi eleito com ajuda de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e de outros operadores da Justiça que manobraram leis, noticiário e consciências sem serem incomodados - e impuseram ao País os mais graves danos já registrados desde 1500.

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O PSDB já viveu dias mais gloriosos como sigla de centro-direita - o que não representa, necessariamente, progressismo, aptidão para a defesa social, apelo popular e fortalecimento ético da política.

Ainda assim a Democracia espera que possa se recompor e corrigir rumos.

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"Mamãe Falei": o modelo bolsofascista tem a inteligência mole, a moral curta e o queixo duro

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

No começo destes anos 2000, o programa Pânico na TV, depois Pânico na Band, lançou um personagem que cedo cairia nas graças do público daquela produção. Era o "Repórter Vesgo", encarnado por um rapaz chamado Rodrigo Scarpa. "Vesgo", que não tinha nada repórter nem de estrábico, vivia de provocar e humilhar celebridades ou sub-celebridade. Certo, ou com esperança, de que levaria um safanão e assim arrastaria mais audiência para o Pânico, as assediava sem trégua.

Deu certo durante bom tempo. O programa faliu financeiramente e em proposta televisiva , o que fez com que "Vesgo" voltasse para o esgoto mental de onde havia saído.

O modelo do personagem, no entanto, ficou pairando por aí. Já em 2013, um clone ideológico surgiu também dos subterrâneos morais: um sujeito desclassificado chamado Arthur do Val, vulgo "Mamãe Falei", integrante do Movimento Brasil Livre, que fazia com adversários políticos o que "Vesgo" fazia a quem dedicava antipatia.

Com isso, acabou eleito deputado estadual em São Paulo (pausa aqui para destacar o nível do eleitor paulista, que o escolheu, assim como escolheu Janaína Paschoal, Eduardo Bolsonaro, Kim Karaguiri e outros de iguais formatos, conteúdos e substâncias).

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Depois de levar sopapos de gente anônima, a qual provocava em manifestações de esquerda, e de personagens políticos como Ciro Gomes e Emerson "Boca Aberta" Petriv, "Mamãe Falei" achou na guerra entre Ucrânia e Rússia oportunidade de ter vantagens sexuais. Pouco inteligente, como sempre demonstra ser, gravou de lá mensagem de áudio e a compartilhou com "amigos", elogiando a beleza de mulheres ucranianas e avaliando que, devido à violência e à desesperança do conflito, elas eram "fáceis".

Logo a imbecilidade foi descoberta e "Mamãe Falei" acabou sendo cassado na Assembleia Legislativa de São Paulo. Perdeu o emprego e apoiadores; não ganhou inteligência nem bom-senso.

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Por estes dias, voltou ao noticiário. Foi atiçar e xingar "inimigos" que protestavam contra a violência policial no Guarujá (SP). Terminou levando um certeiro murro de direita de um manifestante. Tentou, tolamente, se fazer de vítima - mas, conhecidos que são os métodos de arruaceiro que adota, conseguiu no máximo causar risos.

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"Mamãe Falei" é o estereótipo moral e ético do Movimento Brasil Livre, um ajuntamento que tentou arrumar espaços no bolsonarismo mas acabou sendo chutado até de lá. Tudo o que faz é cabível a qualquer integrante do MBL. É merecedor do aplauso de quem se diz fascista, como ele mesmo se admite, e de quem acha que o nazismo não deveria ser criminalizado.

"Mamãe Falei" é, infelizmente, uma referência política atual. Infelizmente também tem o queixo duro. Não se pode dizer é se, com o apelido que tem, não vai parir filhotes.

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O Brasil só tem um senador do "Novo", que é da bancada do Ceará, e o que ele fala não tem importância num debate desejável e necessário para o bem do País

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

O partido "Novo" só tem um representante cearense no Congresso. É o senador Luís Eduardo Girão, que aderiu à sigla bolsonarista em fevereiro passado, mais de quatro anos depois de ter sido eleito pelo Podemos - que tem os mesmos formato e conteúdo. A legenda é tão pequena que não tem nenhum nome do Ceará entre os oito deputados federais que a integram. Também não abriga nenhum parlamentar na Assembleia Legislativa do Estado nem na Câmara Municipal de Fortaleza.

O "Novo", isso não é novidade, não tem expressão nem importância política. Mesmo assim, caminha de certo modo unido. Em vez de suscitar algum debate interno, o ataque do governador de Minas Gerais aos estados do Norte e do Nordeste, acenando com a bandeira do reprochável separatismo, fez com que os contumazes falastrões do "Novo" se calassem. Passaram um zíper hermético nas boquinhas e canonizaram Romeu Zema como líder inquestionável e intocável.

Vejamos o próprio Girão.

Logo após Romeu Zema ter publicizada a opinião contra o Nordeste e a unidade nacional, o senador cearense usou a plataforma Instagram, na qual tem mais de 273 mil seguidores, para falar de um tiktoker que está se recuperando de uma cirurgia, criticar o ministro Flávio Dino, ofender o STF e os ministros que o compõem, questionar a Democracia, veicular esquete de humor-conservador (se é que isso existe), investir contra a CPMI do Golpe de 8.1 e elogiar mãe e filha que estudam na mesma universidade pública (que, como outras, escapou da devastação imposta pela gestão de Jair Bolsonaro).

Publicou alguma manifestação em defesa do Nordeste e em apoio à manutenção da União? Não, claro que não.

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Vale sempre lembrar: o Novo não tem nenhum deputado federal no Nordeste, assim como não tem governador nenhum. Entre todos os deputados estaduais do Ceará, ninguém está filiado àquele partido, que também não conquistou representante entre os prefeitos dos 184 municípios do Ceará. Só há um senador da sigla, que é o já citado Luís Eduardo Girão.

O "Novo", que reproduz falas nitidamente retrógradas e desagregadoras, não tem contribuição nenhuma a oferecer ao debate político no País. Nada mais é do que uma tripa do bolsonarismo, com tudo o que tem de reprovável naquela esfera.

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O que Romeu Zema fala e o que Luís Eduardo Girão deixa de falar não precisa de atenção.

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Na festa da Rainha das Águas, Democracia e respeito à diversidade vencem intolerância; "Odoyá, minha mãe!"

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

A Prefeitura de Fortaleza vai dar uma força mais uma vez aos festejos de Iemanjá nas próximas segunda e terça-feira - a divindade de matriz afro é celebrada juntamente com Nossa Senhora de Assunção, padroeira católica da cidade.

As atividades serão desenvolvidas nas praias do Futuro e de Iracema, organizadas por instituições não-governamentais. Haverá cortejos nas praias de Iracema e do Futuro com agradecimentos e oferendas à Rainha do Mar.

O que poderia ser um ordinário engajamento oficial num tradicional movimento da sociedade ganha, por aqui, ares especiais. Ares políticos, pode-se afirmar. É que o prefeito José Sarto (PDT) e o irmão dele, Elpídio Nogueira, secretário de Cultura, são evangélicos. Nessa condição, têm de suportar pressões intensas para que não deem suporte a uma manifestação da umbanda. E como!

E é bom mesmo que seja assim.

Cumpre-se, dessa forma, a lei, nada mais. Veja o que diz a Constituição Federal no artigo 5º: "VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias (...); VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei."

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Desse modo, aparecendo algum fanático tratando mal a fé dos outros, o que não é raro, ou ameaçando quem não segue as orientações de gente como Silas Malafaia, Edir Macedo e Valdemiro Santiago, a lei é o melhor que se pode usar para exorcizar más-intenções.

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Serão montados palcos na Praia de Iracema e na Praia do Futuro com rodas de conversa, orações, cortejo, louvor, homenagens, oferendas e apresentações de afoxés e tambor de crioula.

Palavras de Elpídio Nogueira: "Há mais de 70 anos, o dia 15 de agosto é reservado para celebrar a Rainha do Mar nas praias de Fortaleza. Uma tradição que mostra a resistência das religiões de matrizes africanas e das manifestações tradicionais da cultura popular em nossa cidade".

O evento na Praia do Futuro será promovido pela União Espírita Cearense de Umbanda. Já na Praia de Iracema, a realização é da Associação Espírita de Umbanda São Miguel, Associação Cultural Afrobrasileiro Pai Luiz de Aruanda (ACPLA), Bloco Carnavalesco Amigos do Zé, Centro Cultural de Umbanda Rainha da Justiça, Sociedade Espiritual Caboclo Índio e outras.

A Festa de Iemanjá é registrada como Patrimônio Imaterial de Fortaleza, conforme decreto nº 14.262 de 30 de julho de 2018, publicado pela Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza.

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Observe-se que desde 30 de julho de 2018, por força do decreto 14.262, do então prefeito Roberto Cláudio, "Art. 1º - Fica registrada como Patrimônio lmaterial de Fortaleza a Festa de Iemanjá de Fortaleza, por se tratar de uma manifestação que demarca as memórias, as identidades, as histórias e a cultura dos habitantes da cidade de Fortaleza; Art. 2° - Fica determinada a inscrição do FESTA DE IEMANJÁ DE FORTALEZA no Livro de Registro das Celebrações".

E ponto final.

Odoyá, minha mãe!

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Aquiete-se: a República não está abalada, as instituições não estão em chamas!

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Diferentemente do que muitos podem dizer ou pensar - ou querer -, em razão do depoimento prestado hoje (17.8) pelo hacker Walter Delgatti Neto, estelionatário digital que se fez notório por melar o esquemão deletério da Operação Lava-Jato, a República brasileira não corre perigo nenhum. Não pesa sobre a nação o risco de intervenção anti-democrática, não existe a ameaça de rupturas institucionais.

Longe disso.

O que Walter Delgatti faz nesta quinta-feira na CPMI do Golpe, no Congresso, é provar por A+B o quanto incompetente e crente na impunidade é a quadrilha que estava no poder e que, nessa condição, aí sim, representava uma espada contra o coração do País.

Nisso, tem um apoio fundamental prestado pela bancada de bolsonaristas.

Não há nada mais eficiente contra piolhos do que inseticidas. Não há nada mais eficiente contra a mentira do que a verdade. Não há nada mais eficiente contra a força e a agressão do que a inteligência e a organização.

Walter Delgatti, o vulgo "Vermelho", entre todos os picaretas que infestam os meios eletrônicos brasileiros o único que havia se exposto no rumoroso caso da "Vaza-Jato" - antídoto que desnudou a fieira de crimes cometidos por Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e asseclas -, foi justamente o escolhido por Carla Zambelli e Jair Bolsonaro, vigaristas conhecidos, para tentar demolir as estruturas eleitorais a serviço dos cidadãos.

Foi o convocado, num ato que soma burrice e prepotência, para destruir anos de sofridas conquistas da Democracia. Tinha a missão de invadir e desmoralizar sistemas da Justiça; acabou, no entanto, invadindo e desmoralizando o bunker genocida em que se transformara a Presidência da República.

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Admitamos: Delgatti enviou ainda hoje, antes da sessão na CPMI, um recado eloquente a Jair Bolsonaro e demais contratantes. Foi ao STF e conseguiu autorização para ficar calado e não responder às perguntas dos senadores e deputados - algo que se concedeu também a personagens como Silvinei Vasques e Mauro Cid. Conseguiu autorização por meio do ministro Edson Fachin.

Mas esperou, esperou e não obteve resposta. Calados estavam, calados ficaram Bolsonaro e os outros. Talvez tenham avaliado que não seria bom negócio fazer qualquer aceno, diante da possibilidade de isso ser igualmente descoberto.

Pagou-se para ver. E isso está custando muito caro.

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Resta esperar agora a prometida acareação entre Walter Delgatti e Jair Bolsonaro.

Acareação, vocês sabem, é um procedimento judicial que visa a preservar a verdade. É uma fala contra outra, uma prova contra outra.

Que prevaleça a verdade, então.

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Que as joias foram surrupiadas já se sabe; mas por quê e para quê foram enviadas a Bolsonaro?

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Jornalistas vivem diante de perguntas que conduzem os textos que escrevem e levam aos leitores: "Quem", "o quê", "onde", "como", "quando" e "por que".

Esse é o arcabouço das matérias, ou pelo menos do parágrafo líder dos textos, o chamado "lead" (ou "lide"), conforme recomendou o estudioso de comunicação Harold Lasswell (1902-1978). Uma matéria só é considerada eficiente ao que se propõe se for esclarecedora, se obrigando para isso a responder àquelas questões.

A política também se depara com situações assim. O caso das joias roubadas, por exemplo, embute uma relação de dúvidas que devem ser desvendadas pelos investigadores da Polícia Federal e do Ministério Público e pelos assessores da CPMI do Golpe de 8.1.

Repare:

"Quem deu as joias a Bolsonaro?" - Ninguém. As joias foram enviadas ao Governo Brasileiro (ao povo brasileiro, melhor definindo).

"O quê foi dado?" - Não se sabe ainda. Faltam informações precisas e oficiais sobre todos os bens que foram presentados ao Estado, desviados por Bolsonaro e vendidos no mercado internacional.

"Onde foi feita a entrega das joias?" - Ao que se sabe, em eventos entre governos em outros países, sobretudo na comunidade Árabe.

"Quando foi feita a entrega dos joias?" - Não há uma agenda definida para esclarecer esse ponto, assim como não se conhece a lista do que foi entregue.

"Por que as joias foram dadas ao Brasil?" - Porque é praxe nas relações diplomáticas a troca de presentes como forma de manifestar respeito e amizade.

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É necessário ter respostas para cada uma dessas perguntas, mas uma chama atenção em especial: "Por que as joias foram dadas ao Brasil?"

Quem deixa de presentear outras nações com mostras efetivas de sua cultura, como a arte nativa, para entregar relógios e outros objetos de ouro e cravejados de diamantes, cotados em mais de R$ 1 milhão? Qual o objetivo de se oferecer tesouros de tamanho desproporcional à expressão do presenteado?

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Conhecer os autores é também conhecer as intenções.

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Movimento de Domingos deixa a gestão e a vida política de Sarto entre a UTI e a morgue

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

O afastamento do PSD da gestão do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), escancarou um mundo de especulações na política cearense. As mais diversas análises, que variam do desprestígio à traição, apontam na maioria das vezes numa só direção: o governo de Sarto entrou em parafuso e, nessa decadência, pode não ter apenas o chão como limite.

O PSD é pequeno? É, mas tem uma expressividade indubitável. Tem bancada reduzida na Câmara dos vereadores? Tem. Mas é como um chip de telefone: tente fazer seu celular funcionar sem chip...

Situação assim é uma infelicidade que só os políticos mais implacáveis dedicam aos adversários.

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Há quem avalie que o cisma vá fazer com que José Sarto, passada a temporada no Paço Municipal, jogue a toalha e encerre a carreira política que começou em meados dos anos 1980, no hoje extinto PDC, como vereador. Seria um final lastimável, deprimente, sem capacidade de reação diante dos ataques e hostilidades que acusa. Até mesmo sem nenhuma competência técnica ou política de exercer o fundamento da comunicação com a sociedade.

Algo assim foi sofrido pelo ex-prefeito Juraci Magalhães, acuado pela voracidade com que o deputado Eunício Oliveira avançou rumo às despensas do PMDB.

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A saída do PSD do governo Sarto, determinada pelo presidente estadual do partido, Domingos Filho, indicaria precocemente o fim do arcabouço partidário que em 2020 manteve os progressistas na Prefeitura. O rompimento, que tem o PDT e o PT como interessados maiores, alveja de uma só vez não só o comando da administração municipal - fazendo abortarem planos A e B de manutenção do poder -, mas também a oposição que, sem liderança nem ideias, patina tendo nas mãos apenas o nome do bolsonarista Capitão Wagner como opção eleitoral.

A decisão de Domingos Filho, agora sem volta, seria o tiro de largada para uma rápida corrida na qual os partidos se distanciariam de Sarto. Mas é importante que se note: a despeito do que Domingos fez e alega, Sarto tomou e ainda pode tomar suas próprias medidas. Tanto que está distribuindo cargos para resíduos locais do bolsonarismo, tentando juntar em torno de si alguma força política.

Nesse cenário, não se antevê nenhuma ação que permita a Sarto se reaproximar do PDT. Até porque o desejo dos trabalhistas para 2024 é de uma objetividade inquestionável: se livrar de quem não deu respostas à população e ao partido e dispor de alguém efetivamente competitivo e agregador.

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Artigo em 27.8.2023

Romeu Zema está usando Jair Bolsonaro; Bolsonaro sabe disso, assim como o sabe que Zema é a última chance do bolsonarismo

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

A avalanche de denúncias e investigações que desabou sobre a família de Jair Bolsonaro não alcança somente as certidões de nascimento do ex-presidente e da prole dele. Atinge, e de forma absoluta, a frágil construção política que os sustentou por décadas - o que é agora chamado de bolsonarismo. O que vai sobrar desse conjunto de práticas, grande parcela repudiada por fatias largas da sociedade, que soma ódio, revide, atraso, fake news, nenhum resultado coletivamente positivo, horror a conquistas sociais, medo da diversidade, fanatismo e ameaças e ataques à Democracia?

Deve-se admitir que há, de fato, um legado. Não vai desaparecer de uma hora para a outra a horda de arruaceiros que invadiu Brasília em 8 de janeiro e destruiu parte do patrimônio nacional. Os criminosos que distribuem mentiras nas redes sociais também não evaporarão. As bancadas de deliquentes que representam o bolsonarismo em instituições diversas continuarão por lá - embora, em alguns casos, limadas e aparadas.

Deve-se admitir também que há, neste momento, formações interessadíssimas em evitar que esses aglomerados se percam nos desvãos da política.

A primeira é a família de Jair Bolsonaro, que fatura um bom dinheiro público faz anos pendurada nas largas e sólidas vigas públicas.

A segunda é composta por oportunistas que estão de olho em ficar com o que sobrar.

Juntando uns com os outros, têm-se um desenho nítido do que se sucede agora.

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Vamos aos fatos:

O governador de Minas Gerais anunciou que concederá ao ex-presidente, a despeito do caráter delinquente que permeia tudo o que ele faz, o título de Cidadão Honorário do Estado - o mesmo torrão no qual nasceram, entre muitos valorosos brasileiros, Tiradentes, Tancredo Neves, Juscelino Kubitscheck, Ziraldo, Milton Nascimento, Fernando Sabino e Dilma Rousseff.

Isso: Romeu Zema, aquele que tem tonitroantes mazelas vernaculares e aritméticas, vai colocar no peito de Bolsonaro, de quem não se conhece obra nenhuma em favor da saúde, da educação, da inclusão social nem das boas relações internacionais do País, uma medalha. Sim, um tributo do cidadão a um sujeito conhecido por escândalos com desvio de recursos e bens públicos, por fomentar golpe de Estado, por agredir os direitos mais elementares da população.

Zema, é claro, está de olho no que restar do bolsonarismo. Tenta aparecer como o continuador da "obra" do "mito", como alguém capaz de dar sequência à demolição moral e física de uma nação inteira.

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Outro núcleo oportunista é a cidade de Porto Alegre, triste capital do Rio Grande do Sul, que aprovou lei tornando o 8 de janeiro em "Dia do Patriota". Não se faz menção a nenhum feito enobrecedor, a nada heróico, ao que quer que seja digno de aplausos e admiração. O "Dia do Patriota" gaúcho dialoga com a data em que gangues investiram contra prédios públicos - as mais simbólicas manifestações são as da traficante "Fátima de Tubarão" e a de um homônimo, que defecaram em locais caros à Democracia.

Porto Alegre, por meio da Câmara Municipal, quis não apenas dizer ao Brasil que não se preocupa nada com as liberdades democráticas, que adora armas e violência. Quis também avisar que lá, onde borbulham bandos de neonazistas, há campo aberto para a organização de quadrilhas, para o desfazimento de direitos, para a humilhação generalizada.

Porto Alegre, sinceramente, não merece o nome que tem.

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Para concluir: se fosse empreendimento de inimigos de Jair Bolsonaro, não da Justiça, da Polícia Federal e do Ministério Público, a operação que chegou a Jair Renan Bolsonaro poderia ser vista como vendeta. Mas esqueça: Jair Renan não é dono da Friboi, da Oi nem de uma Ferrari de ouro.


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Acredite: o racha no PDT caminha para por Ciro Gomes em confronto direto com Eduardo Girão

Publicado por PortalInvestNeem 03/10/2023

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Por trás do rompimento no PDT do Ceará e da destituição do senador Cid Gomes da presidência estadual do partido há uma questão bem distinta de quiprocós paroquiais e invisível por ora: a necessidade de o ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes ocupar espaço no arco da direita – que é o que sobrou para ele – e no que isso pode resultar.

Ao articular o afastamento do irmão Cid juntamente com o presidente nacional do PDT, deputado André Figueiredo, Ciro se aproxima da manada órfã do bolsonarismo no Ceará, a qual tem sido ambicionada com voracidade pelo senador Luís Eduardo Girão (Novo).

Ciro precisa enxergar na parcela direitista, inclusive naquela que foi acampar diante da 10ª Região Militar, a única chance de se manter visível e operante na política. Faz sentido: Ciro Gomes foge do ostracismo político como Malafaia foge de imposto, esse é o fato.

E é aí que entram os novos desafios:

  • Primeiro: Ciro não tem perfil de coadjuvante – o comportamento dele é o de líder único, inquestionável, inapetente para a ideia de dividir o comando do que quer que seja com quem quer que seja.
  • Segundo: Eduardo Girão, que já baixou os espíritos de Capitão Wagner, Silvana Oliveira, Carmelo Neto, André Fernandes e Roberto Pessoa, não vai aceitar passivamente um adversário recém-chegado ameaçar o controle que exerce no campo em que mais se identifica.

Por enquanto, ambos devem olhar com certa curiosidade os movimentos do outro, mas os próximos capítulos, com cenário diferente do atual, podem colocar Ciro e Girão num tête-à-tête sobrenatural, com potencial para fazer abortarem projetos para 2024.

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Cid reage na cisão do PDT; a posição omissa de Sarto chama atenção

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

A compreensão da crise no PDT do Ceará tem nesse trecho abaixo um amparo essencial. Trata-se da parte inicial de matéria assinada pelo jornalista Rodrigo Rodrigues no jornal Opinião:

O senador Cid Gomes (PDT) conseguiu 58 das 84 assinaturas possíveis para convocar o Diretório Estadual do PDT para a eleição de uma nova executiva. Uma comissão formada por deputados, prefeitos e vereadores membros do diretório ainda coleta mais assinaturas. O plano é chegar a 65 signatários. 'Vamos para vencer. Espero que respeitem o resultado como respeitamos a derrota da Izolda [Cela, na escolha para concorrer ao Governo do Ceará, em 2022]', disse o deputado estadual Osmar Baquit, após quatro horas de reunião no auditório da Assembleia Legislativa, nesta terça-feira (3).

As informações são do colunista do OPINIÃO CE, Roberto Moreira. A expectativa é que a eleição da executiva ocorra no próximo dia 16.

O senador Cid Gomes, que até a manhã desta segunda-feira (2) era o presidente estadual em exercício do PDT, tenta recuperar o controle do partido. Segundo ele, o objetivo segue sendo o de 'pacificar' a sigla. Cid afirmou ter sido surpreendido pelo deputado federal André Figueiredo, que o destituiu do comando da executiva estadual.

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Cid está tentado reagir, com legitimidade e respeitando regras, ao golpe sofrido no começo desta semana. Tem seguido as vias elementares, normativas. Essa é a política que se deve fazer.

O senador já contabilizou o apoio que tem e sabe que, insistindo nos recursos legais - entre os quais o de convocar o Diretório para uma nova eleição -, agrega mais chances de retomar o poder do qual foi afastado numa manobra entre o irmão dele, Ciro, e o presidente nacional da sigla, deputado federal André Figueiredo.

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O fato, porém, é que em qualquer circustância que essa querela termine o PDT não será mais o mesmo. Por mais curativos que se tentarem fazer, a soma de lesões deixará sequelas em tudo para levar a pior. Mas Sarto deve se contentar em ser um mero marisco?

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Assim termina a matéria no Opinião: "Para Cid Gomes, a verdadeira motivação da crise interna no PDT é a falta de reconhecimento dos erros cometidos durante as eleições do ano passado. 'Ao invés de terem humildade para reconhecer o erro, insistem numa posição de disputa e de vingança', afirmou".


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Racha no PDT vai colocar Ciro Gomes em confronto direto com Eduardo Girão

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Por trás do rompimento no PDT do Ceará e da destituição do senador Cid Gomes da presidência estadual do partido há uma questão bem distinta dos quiprocós paroquiais: a necessidade de o ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes ocupar espaço no arco da direita - que é o que sobrou para ele - e no que isso pode resultar.

Ao articular o afastamento de Cid juntamente com o presidente nacional do PDT, deputado André Figueiredo, Ciro se aproxima da manada órfã do bolsonarismo no Ceará, a qual tem sido ambicionada com pelo senador Luís Eduardo Girão (Novo). Ciro precisa enxergar na parcela direitista, inclusive naquela que foi acampar diante da 10ª Região Militar, a única chance de se manter visível e operante na política. Faz sentido: Ciro Gomes foge do ostracismo político como Malafaia foge de imposto, esse é o fato.

E é aí que entram os novos desafios:

- Primeiro: Ciro não tem perfil de coadjuvante - o comportamento dele é o de líder único, inquestionável, inapetente para a ideia de dividir o comando do que quer que seja com quem quer que seja.

- Segundo: Eduardo Girão, que já baixou os espíritos de Capitão Wagner, Silvana Oliveira, Carmelo Neto, André Fernandes e Roberto Pessoa, não vai aceitar passivamente um adversário recém-chegado a ameaçar o controle que exerce no campo em que mais se identifica.

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Os próximos capítulos, com cenário diferente do atual, podem colocar Ciro e Girão num tête-à-tête sobrenatural, com potencial para fazer abortarem projetos para 2024.

Aguardemos.

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Eliomar de Lima: minhas reverências a um grande e valoroso mestre e companheiro de redação


Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Conheço um bom jornalista de longe. Conheço um excelente jornalista de muito mais longe ainda.

Não sei se ganhei essa virtude com o passar de muitos anos no ofício ou se já entrei no meio com essa capacidade. Aliás, não sou o único que detém um tino desses.

Escrevo para lamentar o quanto perdem Imprensa e o leitor cearenses com o fim da relação de 38 anos vivida pelo jornalista Eliomar de Lima com o jornal O Povo, onde também dei uma cota dos meus esforços e onde também aprendi muito.

O rompimento foi anunciado formalmente pelo O Povo, em nota tão suscinta quanto melancólica, na edição deste sábado, 7 de outubro.

Na verdade, posso falar de talento, capacidade, vocação e qualidades do colega Eliomar de Lima desde quando o conheci - nos anos 1980, na faculdade de Comunicação Social da UFC. É aí que entra a observação de que "conheço um excelente jornalista de muito mais longe ainda". Pois é: conheço o Eliomar há mais de 40 anos.

O sujeito é uma máquina de processar informações, capaz de abordar com perguntas pertinentes políticos, gestores públicos, empresários, religiosos e esportistas, entre outros tantos. Não é que Eliomar saiba de tudo, mas ele sempre está atualizado - se não estiver, o que não é de espantar, pois ninguém consegue mesmo, dá um jeito não deixar a pergunta dele se perder no vazio.

Somos da época da máquina de escrever, do fotolito, do telex, da apuração, da ética e da estética. Eliomar, mais do que muitos, soma isso tudo com um bom-humor inacreditável, uma verve única, capaz de triturar a murrinha e os aborrecimentos frequentes das redações.

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Sou, na verdade, muito grato ao Eliomar de Lima pela saudável linha jornalística que ele oferece a gerações seguidas de profissionais, sem para isso se arvorar de mestre ou guia. O que consumo de notícias, o que consumimos, tem elo estreito com o estilo Eliomar. Se não tiver, não é bom.

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Eliomar de Lima, com aquele vozeirão, com o jeito engraçado que tem, com os furos que dá repetidamente, vai seguir caminho com o Blog do Eliomar.

É bom ter mais essa notícia.

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Ciro Quincas Borba Gomes: "Ao vencedor, as batatas!"

Artigo do jornalista Roberto Maciel

A frase está num livro imortal que, como outros livros imortais, ostenta a assinatura de Machado de Assis - nome de brilho único na literatura universal: "Ao vencedor, as batatas!" A fala é atribuída, no livro Quincas Borba, ao personagem-título, que criou uma espécie de "filosofia" à qual denominou "humanitismo".

Assim escreveu Machado de Assis: "Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos que assim adquire forças para transpor a montanha e e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais feitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas".

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Vamos a outra visão, então:

Ex-deputado estadual, ex-prefeito de Fortaleza, ex-governador do Ceará, ex-ministro, ex-deputado federal e candidato a presidente da República (lembro essas passagens para expor a relevância do sujeito). Ciro Gomes tem um incomum e, por isso, invejável currículo político. Também carrega na história que construiu a rara capacidade de trocar de partido com frequência imoderada. PDS, PMDB, PSDB, Pros, PSB, PDT são siglas pelas qual ele e o grupo que o segue passaram - todas ficando em estado de penúria após as temporadas às quais se submeteram aos chamados "FG Brothers".

Esse caráter fez com que várias siglas - incluindo o PT - estabelecessem uma blindagem que afastasse Ciro ou o impedisse que as cercasse, as assediasse, cortejasse e ingressasse nelas. Era uma questão de prevenção de perdas e de preservação da imagem.

Isso registrado, restava a Ciro demolir um último espaço: o da família. Apresentado como líder de um grupo organizado e disciplinado no qual se encontram os irmãos Cid, Lia, Ivo e Lúcio - esse último sem vida parlamentar -, ele parece ter conseguido o que faltava.

Assim como desafetos políticos, criados ao longo de discussões, divergências e até discórdias, os irmãos de Ciro já não falam mais com ele. Perceberam que é um péssimo negócio estar subjulgados às vontades de um líder que não lidera, mas apenas faz valerem os próprios interesses.

Ciro e seus interesses estão agora certos de que ficarão com as batatas na guerra travada no campo do PDT. Cid, os outros irmãos e mais uma legião de aliados, deixarão o partido e se farão acompanhar de "ódio ou compaixão" pelo que está ocorrendo no desmonte da legenda.

É fato: Ciro vai ficar com as batatas.


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Por que Carla Zambelli ainda está solta neste Natal?

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

A deputada paulista Carla Zambelli (PL) é o nome mais intenso do bolsonarismo na Câmara federal. É, pode-se dizer, a encarnação mais nítida do espírito violento, rancoroso, doentio e moralmente deformado que caracteriza o pensamento fascista e opressor do governo passado. Para isso, como outros, abriu mão dos deveres parlamentares para bater boca com governistas, atacar ministros e xingar adversários.

Carla arrasta na lama o que pode haver de mais nobre na atividade política.

De muitas e muitas bobagens que fez e falou, Carla se notabilizou por ter acusado a filha de ex-presidenta Dilma Rousseff de ser dona da rede de lojas Havan, pertencente, na verdade, ao exótico Luciano Hang, um bolsonarista que, como outros, não tem senso de ridículo.

Mas a mais acintosa estupidez cometida pela parlamentar foi, na véspera da eleição de 2022, perseguir um homem negro em movimentadas ruas do bairro dos Jardins, na capital paulista, armada e escoltada por um grupo de brucutus. Isso já são favas contadas, posto que Carla responde processo na Justiça e, conforme estimam analistas, deve ser cassada por isso. Há quem diga que, naquele episódio, ela acabou afundando o resto da esperança que Jair Bolsonaro tinha de se reeleger.

O que me encafifa mesmo, e ninguém responde, é o porquê de ela estar rondando a área na qual, 200 metros além do local do conflito, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizaria o último evento da campanha que o levou pela terceira vez à Presidência da República.

Carla Zambelli, cercada de homens de aparência truculenta, também armados, portava uma pistola a menos de dois quarteirões do ponto da Avenida Paulista em que se concentravam milhares de apoiadores do petista Lula. O que ela estava preparando? O que planejava? Lula seria o alvo?

Neste fim de ano, passada a turbulenta de grosseira era Bolsonaro, com o Brasil reconduzido - ainda que com lentidão e dificuldade - à sanidade mental cabível a países civilizados, é de que se questionar: por que aquela mulher ainda está solta, ainda não está recolhida ao merecido xilindró? Por que a Justiça se faz tão morosa?

Mas é de se perguntar também o porquê de o jornalista Luan Azevedo, o cidadão preto que ficou sob a mira da pistola de Zambelli, não ter sido ainda homenageado por entidades públicas e privadas. Já imaginaram a tragédia que ele evitou ao interromper, ainda que sem sequer imaginar o trajeto da deputada e do séquito que a acompanhava até a Avenida Paulista? Imaginaram se o tiro que se ouve, talvez dado para cima, fosse em meio a milhares de pessoas?

Feliz Natal, Luan. Obrigado por evitar a carnificina que Zambelli poderia ter causado.

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Ciro: um bofete bem dado

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Não há nada de democrático nem civilizado nem respeitoso nem humano nem educado no fato de se bater na cara dos outros. Isso é feio, diriam aquelas que nos educaram. Bater nos outros, quando isso é cometido por adultos, pode resultar em encrencas judiciais, diriam aqueles que nos representam nos tribunais. Mas, entre mães e advogados existe um abismo imenso, largo e profundo, ao qual podemos chamar de "Ciro Gomes" (esperando, claro, que ele tenha o mínimo de bom-humor e me poupe de uns catiripapos).

Descontando tudo o que tem se falado desde ontem, quando Ciro aproveitou o saudável clima de terreiro do samba feito pela Prefeitura de Fortaleza na Avenida Beira Mar para sapecar um sonoro tabefe na bochecha de um impertinente que, com o pretexto fazer foto com ele, o chamou de "ladrão", há de se analisar o caso por vários ângulos.

Detenho-me num só, porém: o da grave deformidade que se tenta impor à democracia com a noção idiota de que liberdade de expressão é salvo-conduto para se atacar, ferir e destruir a imagem alheia.

Com isso não quero, nem de longe, passar pano para Ciro.

Não quero admitir que ele ou quem quer que seja, por se sentir agredido, trate de bater nos que supostamente o ofenderam. Esse comportamento está muito mais para uma tonta como a deputada Carla Zambelli (PL-SP), que ameaçou matar num homem numa região movimentada de São Paulo, do que para ele - a quem não perco nunca a oportunidade de elogiar pela verve, pela retórica, pela criatividade e pelo texto, nunca pela temperança.

No entanto, é necessário observar que vimos Ciro se despir da fatiota de político, se desvencilhar do exercício de liderar um grupo em ideias e propostas para, com o tapa aplicado no rosto do agressor (depois identificado como Tiê Rocha, que se diz sem vinculações partidárias nem ambições eleitorais), agir como muitos dos cidadãos e muitas das cidadãs comuns agiriam. Paciência tem limite. Na perspectiva de muitos, Ciro Gomes fez a coisa certa.

Ciro já havia mostrado que com ele não se deve esticar a baladeira - uma vez, ainda candidato a presidente, deu um "pescotapa" num tarado sexual chamado Arthur do Val, um pilantra vulgarmente conhecido como "Mamãe Falei", deputado estadual de São Paulo cassado (com dois "s", ressalto) porque havia ido à Ucrânia caçar (com "ç", ressalto também) mulheres em situação de vulneabilidade causada pela guerra com a Rússia.

Tiê, que ganhou umas migalhas de exposição com a aventura que empreendeu, teve até sorte - mas, reconheçamos, soube escolher o alvo. Se tivesse feito o que fez com um outro personagem que não Ciro Gomes, poderia não estar agora contando a história e acumulando likes.

Acho que Ciro, por meio segundo, que seja, não quis ali na ventilada Beira Mar abrir mão de compostura completa.

Sei lá.

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Os rejeitados serão rejeitados?

Artigo do jornalista Roberto Maciel, editor do Portal InvesNE:

Apresentados nesta semana, os primeiros números das pesquisas eleitorais para a Prefeitura de Fortaleza têm um dado ruim - péssimo, aliás - para a deputada federal Luizianne Lins (PT). Ela, que se diz interessada em tentar voltar ao Paço, é a líder em rejeição do eleitor entre os nomes citados pela sondagem. Dos pesquisados, 30,6% a rejeitam como candidata. É legítimo supor que parte são aqueles que têm memórias nada afetivas da gestão que Luizianne realizou entre 2005 e 2012. A sondagem foi feita pela Paraná Pesquisas, contratada pelo site CN7.

No rastro de Luizianne Lins aparece com 26,9% o ex-deputado federal Wagner Sousa (UB), uma espécie de Ciro Gomes direitista das disputas municipais em Fortaleza. Wagner, como Ciro em eleições para presidente, tenta sempre ser prefeito e nunca consegue. O ex-parlamentar e agora ex-secretário de Saúde de Maracanaú teve os vínculos enfraquecidos com Fortaleza e com a higidez política que costuma pregar, sobretudo por tentar articular a nomeação da própria irmã, Valderlange, para substitui-lo no cargo que ocupava.

Entenda-se a rejeição não apenas como a negativa do eleitor de votar em um ou outro candidato, o que é o mais básico nesse sentido, mas no comprometimento que tem com outras vertentes políticas. Após Wagner Sousa, o nome com maior taxa de rejeição é o prefeito José Sarto (PDT), apoiado por Ciro Gomes, que aparece com 23% - esse caso se torna mais complexo, porque esse indicador tende a se somar à desaprovação do governo liderado por Sarto, de pouquíssimos resultados e realizações.

No final, a pesquisa aponta o bolsonarista André Fernandes (PL), deputado desconhecido pela grande massa local, natural de Iguatu e notabilizado por propostas questionáveis (o "Dia do Orgulho Hétero" é uma delas), por um passado jocoso (no qual deu na Internet aula sobre como depilar o ânus) e pelo bolsonarismo à flor da pele, o que o leva a pronunciamentos histriônicos e a comportamentos passíveis de ridicularização por adversários. André tem 16,9% de rejeição.

O último nesse ranking é o deputado Evandro Leitão (PT), presidente da Assembleia Legislativa do Ceará. Por não ser um político de presença frequente no noticiário de Fortaleza, a taxa dele é até modesta. Ex-presidente do Ceará Sporting Clube, é possível até que a "rabissaca eleitoral" dessa primeira pesquisa esteja partindo de torcedores do glorioso Leão do Pici.

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Por que os políticos não tiram o cavalinho da chuva

Artigo do jornalista Roberto Maciel, editor do portal InvestNE:

A chuvarada que abriu alas e pediu passagem para o Carnaval deste ano em Fortaleza, teve ontem (10.2, sábado) a virtude de colocar sob o mesmo pau d'água políticos de alas e perfis diferentes. Todos, sem exceção, manifestaram preocupação com a população. Nenhum, sem exceção, deu uma palavra sequer de consideração sobre as causas dos problemas que o cidadão precisou, mais uma vez, enfrentar.

A deputada federal Luizianne Lins (PT), ex-prefeita de Fortaleza, escreveu isso na rede social X (antigo Twitter): "Semáforos apagados, lixo transbordando, alagamentos em vias principais, árvores caídas, risco de desabamento... esse é o triste retrato de uma cidade mal preparada para as chuvas. Cadê a limpeza das bocas de lobo e das lagoas, cadê o sistema de drenagem urbana? Fortaleza está um caos! Cobramos posicionamento e ação dessa gestão omissa".

Foi a hora e a vez dela. Quando gestora da capital, Luizianne se deparou com problemas do mesmo porte. Não os resolveu, o que demonstra a situação da cidade agora. Agora, com fluência e desenvoltura, ataca o quadro.

O governador Elmano de Freitas (PT) também foi ao X para tratar do assunto: "Acompanhei, com muita atenção, as fortes chuvas registradas em Fortaleza neste sábado de Carnaval. Prontamente acionei a estrutura do Estado para tomar as devidas providências e atender as famílias atingidas em nossa capital".

O prefeito José Sarto (PDT) seguiu o mesmo rumo. "Informo à população de Fortaleza que, desde cedo, estamos atentos e atuando fortemente nas ruas para lidar com os efeitos da chuva em nossa cidade. Estou pessoalmente monitorando as ocorrências e os atendimentos, em contato direto com nossos secretários, cobrando celeridade nos serviços para minimizar prejuízos e riscos eventuais", escreveu, enquanto a cidade transbordava, galhos de árvores caiam nas ruas, buracos se abriam na pavimentação e casas e comércio eram alagados.

O ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) não postou nada no X ou no Instagram. O que se viu dele foram apenas postagens menos recentes, incluindo a de uma foto em que aparece com a esposa, Carol, e se diz, com ela, "já curtindo o clima de pré-carnaval na nossa linda Fortaleza". Ah, tá!

O deputado Evandro Leitão (PT), presidente da Assembleia Legislativa, pôs a instituição debaixo da chuva: "Acompanhando com atenção a situação das chuvas em Fortaleza neste sábado de Carnaval. Ao longo do dia, fui informado de que as equipes do Estado - Bombeiros e SOP - atuaram para solucionar problemas causados pelas enchentes, tanto nos serviços quanto estruturais. Ressalto que o Poder Legislativo está à disposição para atuar, dentro das suas competências, tanto na votação de medidas emergenciais, caso necessário, quanto no sentido de atenuar os efeitos da enchente para a população mais atingida, por meio do nosso Comitê de Responsabilidade Social. Estamos unidos pelo bem da população fortalezense".

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Ciro Gomes, ex-prefeito, ex-governador e ex-presidenciável, sempre disposto a ser cacique na tribo pedetista, também não registrou nada - embora não espantasse ninguém se dissesse que a culpa é do Lula.

O ex-deputado federal e ex-secretário da Saúde de Maracanaú, sempre candidato a prefeito de Fortaleza, não apareceu - é claro! - para dar palpite.

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No fim das contas, tomando o dito pelo não dito, o fortalezense foi dormir no sábado com a pesarosa expectativa de ter de encarar neste domingo a mesma tragédia que encarou ontem. Com razão. O serviço Climatempo apresentava notícias que não eram boas: "Amanhã será parecido com hoje. Sol com algumas nuvens. Chove rápido durante o dia e à noite".

Ou seja, preparem-se cidadãos, para proteger os móveis dentro de casa, e os políticos, para usar a chuva como arma.


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Qual é a viabilidade de Luizianne? Essa é uma pergunta que talvez nem ela saiba responder

Artigo do jornalista Roberto Maciel, editor do Portal InvestNE:

Nestes dias de folia, não é custoso reservar alguns momentos para reflexões políticas. É o que proponho agora. Nem tudo é folia, desculpe-me pela lembrança estraga-prazer.

Lendo artigo do publicitário Ricardo Alcântara publicado neste portal, sob o título "Os quatro desafios que a política faz a Evandro" (https://portalinvestne.com.br/2024/02/09/ricardo-alcantara-os-quatro-desafios-que-a-politica-faz-a-evandro/), encontramos uma observação pra lá de pertinente:

"O primeiro (dos quatro desafios que a política impõe ao deputado Evandro Leitão) deve ter seu desfecho em menos de sete semanas: receber ou não a indicação do PT como candidato. Para isso, terá que vencer, como noviço no mosteiro, uma batalha interna contra a veterana Luizianne Lins e outros três petistas, todos de papel passado.

Pode vencer? Pode, desde que consiga evitar que o processo de escolha se transfira para o leito turbulento das prévias, quando a decisão é toda transferida para a base militante e um imprevisível eleitor, o Sobrenatural de Almeida, costuma comparecer às urnas."

Essa situação nos leva a considerar aspectos de uma tal viabilidade eleitoral.

Ricardo cita nominalmente a deputada Luizianne Lins, razão pela qual a tomamos como referência - como ele não deu os nomes dos outros "três petistas, todos de papel passado", tratarei-os com a mesma indiferença, perdão pelo mal jeito.

Qual é, hoje (acho a expressão "a preço de hoje" um lugar-comum horroroso, de larga e funda pobreza vernacular, daí me recusar a usá-la) a viabilidade eleitoral de Luizianne? O que ela ostenta de capital político para atrair votos? Foi uma prefeita inesquecível? Deixou um legado importante para a cidade? Mostrou-se política de competência exemplar? As relações que tem com aliados e parceiros são boas? Foi muito bem avaliada pelos cidadãos? Tem excelentes propostas para continuar o que deixou por fazer? As teses políticas que defende superam as dos demais? Têm maior adesão? São exequíveis? Favorecem a organização e a coesão partidárias?

Cada um desses pontos merece ser avaliado com atenção pela leitora e pelo leitor. Será essa análise fundamental para que se defina, no entremuros petista, um nome capaz de mobilizar não apenas a militância, mas a direção do partido.

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A presença de Luizianne Lins no palanque em que se consagrou a entrada do senador Cid Gomes, no último dia 4, posando de bem-comportada a disciplinada militante, pode ser um indicativo que ela mesma - até ela! - não está muito segura de ser eleitoralmente viável.

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Longe de Ciro, Cid obtém uma vitória inquestionável

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

O retorno do senador Cid Gomes ao PSB, após o turbulento rompimento de relações com o PDT e com o irmão, Ciro, estabelece um marco importante para a política do Ceará. Não apenas por Cid ter sido deputado estadual (e presidente da Assembleia Legislativa), prefeito de Sobral, governador do Ceará, ministro da Educação e ser senador. O traço mais nítido é o da transfiguração política. Cid deixa de ser subordinado "cirista" e passa a ser, ele mesmo, com suas próprias feições, líder de um grupo que já surge reunindo 40 prefeitos e que, neste ano, vai se mobilizar fortemente no Estado.

Não é pouco: deixa de ser apenas o "irmão do Ciro" e se transforma efetivamente num Cid Gomes independente, autônomo e capaz de empreender em vários sentidos. Mais: aproxima-se do que Ciro e os tucanos xingam de "lulopetismo" e encontra novas formas de interação.

Muita gente que participou do evento de refiliação no hotel Marina Park, ontem (4.2), pressentiu isso, considerou que o momento era histórico. Outros nem tanto - certamente acharam que se tratava de mais uma atividade partidária como tantas outras que se realizam nestes dias circundantes da janela de filiações.

Aí é que está a distinção: pode-se dizer que Cid passou por um filtro rigoroso e que chegou a um nível diferenciado no processo de composição das personalidades políticas. Isso é bom: é um avanço que qualifica não só o político do Ceará, mas também a política nordestina, muitas vezes não sem razão associada a tragédias sociais como o coronelismo. A modificação é o ponto.

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A importância da reentrada de Cid e da formação do grupo dele, distante do modelo autocrático do irmão Ciro Gomes - fracassado como candidato a presidente da República em quatro ocasiões (1998, 2002, 2018 e 2022), não conseguiu formatar discurso nem método de agregasse e fortalecesse uma corrente política local ou nacional - está na capacidade de dialogar com outras forças. Essa é virtude única, que confere a uns e outros recursos para mudar histórias e destinos.

Além de atrair quatro dezenas de prefeitos para o PSB, algo próximo de 22% de todos os gestores de municípios do Estado, Cid fez convergirem para a solenidade de filiação realizada ontem olhares e ouvidos de políticos do Brasil todo. Vieram nomes do Nordeste, do Sul e do Sudeste para coadjuvar o ato.

Até a deputada Luizianne Lins (PT), que posou de adversária de Cid quando era prefeita de Fortaleza e ele governador e dizia ter sido "humilhada" pelo hoje ministro da Educação, Camilo Santana, ao qual acusou de não dar a ela acesso a um palanque onde estava com o presidente Lula, deu o ar da graça. Não precisou de tapete vermelho para Luizianne se sentar, como boa militante de esquerda e por vontade própria, entre as autoridades presentes.

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Fala de Cid, sem citar nomes nem puxar briga: "A política é um lugar de a gente servir. Tentações são muitas para se tentar da política para servir a si próprio. É um exercício que temos que fazer sempre, de saber que a política é lugar de servir. Vaidade é coisa da natureza humana. A gente tem vaidade, deseja respeito".

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Ao deixar o PDT e seguir de volta para o PSB, Cid sai de uma sombra e de uma influência hostil, rancorosa, centralizadora e, sobretudo, pouco produtiva. Essa é uma vitória inquestionável.

Que Ciro fique com Sarto no colo.

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Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou: Bolsonaro é um "covardão" e, nisso, já virou doutor

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

Especialistas em depilação anal, que têm como hors concours o deputado cearense André Fernandes (PL), até podem ser capazes de contestar a sabedoria popular que ensina que "quem tem c* tem medo". No entanto, não apareceu ninguém ainda para se habilitar a questionar o dito.

E, enquanto ninguém se atreve a desfazer aquilo que já está feito, fica valendo o que parece ter peso de lei: "quem tem c* tem medo".

O ex-presidente Jair Bolsonaro, que se dizia "imbrochável" e "imorrível", mas que só conseguiu mesmo foi se tornar (e se mostrar, por isso) inelegível, está aí para provar que tem c* como todos e que medo como quase qualquer um: foi parar na embaixada da Hungria em Brasília, como se tentando obter asilo político, conforme descobriu e espalhou mundo afora o jornal The New York Times - dos EUA, país para o qual o "mito" batia continência mansa e docilmente ao dar com os olhos uma bandeira.

Medroso.

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Vali-me de uma adaptação modesta de versos do compositor Herbert Vianna para o título deste artigo. Admito que não ficou dos melhores, mas me defendo lembrando que fazer poesia com o nome de Bolsonaro não é para qualquer metido a escrevinhador.

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Mas é possível falar também de Lula. O presidente do Brasil passou 580 dias preso em Curitiba, sem culpa formada e colocado na vitrine do mais descarado lawfare praticado pelo então juiz Sérgio Moro e o então procurador Deltan Dallagnol, dois celerados que se vendiam como paladinos da justiça. É com ele que explico o quase grifado algumas linhas cima.

Lula teve oportunidades de tentar driblar a cadeia determinada pelos planos de poder de Moro e Dallagnol. Houve quem - e cito entre esses o ex-aliado político Ciro Gomes - falasse na época em colocá-lo numa embaixada e daí transplantá-lo para a segurança de um asilo político na Europa.

O "nine", como chamavam chulamente os doutos procuradores da "república de Curitiba", recusou firmemente qualquer discussão que fosse sobre esse tema. Dizia que enfrentaria o que o ameaçasse, que provaria não ser culpado daquilo que a Operação Lava Jato lhe impingia.

Escapar, como hoje se suspeita do que faria Bolsonaro, era-lhe fora de propósito, seria como confessar culpa - mesmo que fosse para se defender à distância.

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Sem pausa, podemos mais uma vez voltar a Bolsonaro sem largar de Lula.

Foi do ex-presidente que o presidente atual talhou uma imagem à perfeição: "é um covardão".

Disso, hoje, ninguém pode mais duvidar. Nem os experts em depilação anal.




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